quinta-feira, junho 13, 2013

EUA arrumam a casa - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 13/06


ÁLVARO GRIBEL  E VALÉRIA MANIEIRO - INTERINOS

Os EUA conseguiram reduzir dois desequilíbrios nos últimos anos: nas contas públicas e no orçamento das famílias. O déficit do governo deve cair de 7% do PIB, em 2012, para 4% este ano. O endividamento dos consumidores recuou porque muita dívida já foi paga, mas também porque o preço dos imóveis e a bolsa subiram. Com essa melhora, os empresários ganham ânimo para contratar e investir. A roda gira.

Em resumo, essa é a explicação dada pelo economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários Ibre/FGV, para justificar a melhora da percepção do mercado em relação à economia americana. É isso que tem fortalecido o dólar nas últimas semanas, não só ante o real, mas também sobre várias outras moedas:
— A recuperação está claramente em curso. São indícios de que os EUA podem crescer mais forte em 2014. Isso fortalece o dólar porque os investidores começam a se antecipar a uma possível redução de estímulos por parte do Fed, o BC americano. Em algum momento, ele vai diminuir a injeção de dólares na economia que, hoje, está em US$ 85 bilhões por mês. Depois, mais para frente, vai elevar a taxa básica de juros.

A dívida das famílias americanas está caindo. No primeiro trimestre de 2009, auge da crise, ela chegou a 27% do patrimônio líquido. No primeiro trimestre deste ano, já havia sido reduzida a 19%, mais próximo da tendência histórica.

— Isso mostra que grande parte do ajuste no orçamento dos americanos já aconteceu. No mercado imobiliário, ainda falta completá-lo, mas a valorização dos imóveis e a redução do saldo das hipotecas vão ajudar nesse sentido — disse Senna.
A indústria americana tem tido uma recuperação lenta, mas, como se pode ver no gráfico, ela já está voltando ao mesmo nível do período pré-crise. O desemprego, depois de encostar em 10% no início do governo Obama, está em 7,6%. O PIB cresceu 2,4% no primeiro trimestre, anualizado, no mesmo ritmo da economia brasileira. Há sinais positivos que justificam o otimismo. O pior momento parece ter ficado para trás. 

Déficit zero: querer não é poder
O economista Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas, é um dos defensores do déficit nominal zero no governo brasileiro. O problema, segundo ele, é que a implementação da ideia, hoje, é muito difícil em função da piora das contas públicas. O melhor momento, diz, teria sido 2005, época em que a então ministra Dilma Rousseff classificou a medida de rudimentar. “Hoje, estamos com Selic em viés de alta e o superávit primário em viés de baixa. Aquela foi uma oportunidade perdida. Déficit zero, a curto prazo, é uma impossibilidade matemática.” 

Gasto corrente sobe 7% este ano
Giambiagi afirma que o gasto corrente do governo subiu 7% de janeiro a abril, em termos reais, sobre o mesmo período de 2012. A piora das contas públicas torna mais difícil chegar ao déficit zero. “Em 2005, a despesa total primária do governo federal era de 20% do PIB. Em 2013, vai ser de 23%, sendo que a despesa com seguro- desemprego era de 0,6% do PIB e hoje é de 0,9%. Outras despesas de custeio e capital eram de 3,7% do PIB. Hoje, são de mais de 5%.”

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