terça-feira, junho 18, 2013

É a economia... - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 18/06

Se à alta da inflação e à desaceleração do PIB se somar aumento na taxa de desemprego, Dilma irá sentir na pele de candidata que é a economia quem decide a popularidade de um governo


Durante a campanha eleitoral em que Bill Clinton disputava a presidência dos Estados Unidos contra George Bush (o pai), em 1992, o estrategista político James Carville cunhou a frase “It’s the economy, stupid!” (É a economia, idiota!), para ser o mote da campanha e o foco em busca da vitória. Deu certo e Bill Clinton foi eleito. Aquela eleição demonstrou que a economia é, de longe, o principal tema capaz de decidir uma eleição, sobretudo se o candidato estiver disputando um segundo mandato e tendo de enfrentar as consequências de sua própria política econômica.

É por isso que a presidente Dilma Rousseff, conhecedora da história, vem dando sinais de preocupação com os problemas da economia brasileira e as perspectivas de alguns maus resultados em 2013. Embora preocupante, a queda de oito pontos porcentuais nos índices de popularidade da presidente não é a principal notícia ruim para sua ambição de segundo mandato, pois ela ainda tem folgada margem capaz de lhe garantir a vitória. Mas, caso os indicadores ruins da economia não sejam revertidos, a queda de popularidade pode se acentuar e aí, sim, a coisa pode não ficar boa para sua pretensão eleitoral.

Para os adversários, o mau desempenho da economia faz o papel inverso, ou seja, os beneficia à medida que dão combustível para críticas à presidente e podem levá-los a ter crescimento nas pesquisas de intenção de voto, alimentando o sonho da possibilidade de vitória. Os indicadores econômicos mais importantes do ponto de vista social são a inflação, o desemprego e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Dos três, somente o desemprego ainda não apresentou piora neste ano. Em 2012, apesar do pífio crescimento do PIB, o desemprego conseguiu manter-se em 5,5%, o menor dos últimos dez anos.

Apesar de o mau desempenho do PIB não ter afetado o nível de emprego, o poder de compra dos salários sofreu abalo ao ser registrada inflação no grupo “alimentos” – 14% em 12 meses, contra o IPCA anualizado de 6,5%. O IPCA (índice oficial usado para medir a inflação) já superou em dois pontos porcentuais a meta do Banco Central para 2013, que é de 4,5%, o que faz a inflação dos alimentos, ao passar do dobro do IPCA, ser considerada bastante alta. A resolução que fixa a meta de inflação aceita uma variação de dois pontos porcentuais para cima e para baixo, dando um sinal de normalidade. Mas o fato de a elevação de preços dos alimentos ter atingido 14% e a difusão dos aumentos ter se espalhado para a maioria dos 365 itens de bens e serviços que compõem a cesta de produtos do IPCA são motivos para acender uma luz de alerta quase vermelha.

Os protestos em várias cidades contra o aumento das tarifas de transporte público e a dimensão que ganharam são um sinal enviado pela sociedade de que realmente é a economia que importa. Inflação em alta e PIB em baixa são dois problemas que a sociedade de certa forma tolerou até aqui sem maiores reações e protestos. Entretanto, se a esses dois indicadores ruins se somar aumento na taxa de desemprego, a presidente Dilma irá sentir na pele de candidata que é a economia quem decide a popularidade de um governo e também as eleições.

Vale ressaltar que a situação econômica não fugiu do controle e o país não está vivendo nada parecido com as crises anteriores ao Plano Real. O governo dispõe de instrumentos para atuar e corrigir os rumos da economia, mas é preciso não cair na tentação de inventar planos ou medidas heterodoxas tão ao gosto dos economistas e políticos ditos de esquerda, pois elas nunca deram certo e deixaram um rastro de estragos para trás.

O Brasil precisa de mais medidas convencionais e conhecidas: controle das contas públicas, abertura ao exterior, estímulo aos investimentos privados nacionais e estrangeiros, retomada dos investimentos governamentais em infraestrutura, estabilidade da moeda e criação de um ambiente favorável aos empreendimentos e aos negócios. Além disso, é necessário que o governo deixe claro ao mundo que nunca mais voltará à prática de manipular dados contábeis e estatísticas fiscais, como fez nos últimos anos, com prejuízos para a credibilidade do país.

A boa gestão macroeconômica, ainda que possa beneficiar os candidatos governistas, é essencial para impedir que a população sofra mais problemas além daqueles já existentes na vida social brasileira.

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