FOLHA DE SP - 14/06
PIB de hoje será a taxa de desemprego em outubro de 2014; além disso, muito eleitor estará endividado
As indicações de perda de popularidade da presidenta da República, claramente presentes na última pesquisa do Datafolha, colocaram a questão da inflação no topo da agenda dos principais analistas políticos no Brasil.
Para quem acompanha essa questão com uma visão mais ampla, não houve nenhuma surpresa com os resultados da pesquisa.
A disparada da inflação, a partir da metade do ano passado, atingiu em cheio a chamada nova classe média, elemento novo na composição da sociedade brasileira nos últimos anos. Pela primeira vez desde a eleição de Dilma Rousseff, a situação de bem-estar e de confiança desse grupo foi substituída por incertezas em relação ao futuro.
As posições políticas desses brasileiros --que representam hoje pelo menos 30% da sociedade-- refletem majoritariamente a situação econômica do presente, ou seja, a situação de seu bolso.
Essa é uma característica das democracias de massa modernas, como bem resume a famosa frase dita no calor das eleições americanas de 1992: "É a economia, estúpido".
O mesmo vem acontecendo no Brasil de hoje. Colocado, pelo efeito dos aumentos de preços recentes, diante de uma redução expressiva de sua renda real e da volta de certa insegurança em relação ao futuro em razão disso, um grande número de entrevistados pelo Datafolha decidiu mandar um recado ao governo.
A inflação implícita das vendas no varejo --que é estimada mensalmente pelo IBGE-- está rodando, desde setembro do ano passado, acima de 7% ao ano.
Nos primeiros meses deste ano, o número chegou a 10% ao ano. Ou seja, o aumento dos preços dos bens de consumo vem se dando a uma velocidade superior à da variação nominal dos salários e reduzindo a renda real dos cidadãos. O mesmo fenômeno ocorre com os serviços, outro item importante do consumo dos brasileiros.
Com o consumidor, principalmente da nova classe média, endividado, esse comportamento da inflação acabou criando uma armadilha conhecida.
Como o ajuste nos gastos mensais não é feito imediatamente, a primeira reação das famílias, em situação de renda real em queda, é apelar para o cheque especial ou o cartão de crédito. Não por outra razão, o Banco Central registrou em abril deste ano o nível histórico mais elevado do uso do cheque especial.
Pagando taxas elevadíssimas de juros (mais de 10% ao mês no cheque especial), mais adiante o cidadão consumidor vai ter que reduzir o seu consumo, comprando um volume menor de mercadorias e cortando alguns serviços ou mudando a qualidade dos produtos consumidos.
Esse é um fenômeno que será mais claramente percebido nos próximos meses, mesmo que o aumento dos preços a cada mês reduza a intensidade atual.
Ou seja, o estrago no humor do principal eleitor do governo vai piorar antes de melhorar. Até porque o aumento de juros que será usado para reduzir a inflação também terá um efeito negativo sobre o sentimento do consumidor.
As reações do Palácio do Planalto a essa alteração de humor de parte importante da sociedade, que até agora tinha mantido apoio quase incondicional à presidente, mostram que não entenderam a alma deste grupo social.
Embora tal grupo seja uma criação do governo do PT, ao longo do primeiro mandato de Lula, esta é primeira vez em que será testada sua fidelidade em condições econômicas menos favoráveis. E a situação do consumo será crucial.
Os comentários e as justificativas de vários ministros e autoridades da área econômica mostram também um entendimento medíocre sobre uma economia de mercado como a brasileira.
Dou um exemplo disso ao leitor da Folha. Pouco antes da pesquisa Datafolha, o ministro Guido Mantega disse em público que o povo não se interessa pelo tamanho do PIB, mas pelo nível do desemprego.
Ele teria razão se o crescimento do PIB não fosse a força motriz de uma situação de desemprego, algum tempo à frente. E, na situação atual da economia, se nada correto for feito, o PIB de hoje será a taxa de desemprego em outubro do próximo ano.
fica claro que quem entende, como e o caso de Luiz Carlos M. de Barros, que a atual situação econômica brasileira não é para amadores.
ResponderExcluirACREDITO QUE O POVO CURTIU E AINDA ESTA CURTINDO MUITO ESTE GOVERNO. POIS ESTE GOVERNO LHE DEU CONDIÇÕES DE COMPRAR MUITAS COISAS , MAIS AO MESMO TEMPO NÃO CRIOU MECANISMOS PARA QUE O PREÇOS DOS BENS DE CONSUMO NÃO AUMENTASSEM TANTO. PENA QUE A ALEGRIA DO POBRE DUROU POUCO.
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