terça-feira, maio 28, 2013

Wei Qi da base contra Dilma - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 28/05

A base aliada age para cercar o Planalto, de forma a obrigar Dilma Rousseff a mudar a área política do governo. O perigo, entretanto, é o feitiço virar contra o feiticeiro


Esse jogo, muito popular na China e já citado aqui em outra oportunidade, requer especialmente estratégia. Consiste em cercar o adversário até que ele seja dominado e não tenha para onde correr. A dificuldade em fazer fluir os projetos ontem e a CPI da Petrobras foram duas jogadas importantes no sentido de tentar fechar o cerco ao Planalto, dentro da partida entre a presidente Dilma Rousseff e a sua própria base política. Tanto é que o governo trabalha a retirada de assinaturas do pedido.

Essa CPI não é para já. Há uma fila de requerimentos na frente, e os deputados sabem disso. Mas só o fato de ter sido apresentada já coloca a maior empresa brasileira sob foco, com uma acirrada batalha de comunicação com viés político. Nos jornais, o destaque inicial foi para a antecipação do leilão do pré-sal em um mês, de novembro para outubro deste ano. Ora, a diferença é tão pouca que levou o meio político a inferir que esse anúncio serviu apenas para tirar o impacto da notícia da apresentação do pedido de CPI.

A vantagem do governo nessa seara durou pouco. Esta semana, por exemplo, foi aberta com notícias sobre a compra da refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, e a existência de documentos que apontam falhas em cláusulas contratuais, o que ajuda a reforçar os argumentos em favor da CPI. Uma reportagem de O Estado de S.Paulo, por exemplo, levanta suspeitas de favorecimento à empresa belga Astra, sócia da Petrobras no início do negócio, em 2005, tempo em que Dilma Rousseff ainda era presidente do conselho da empresa, conforme dissemos aqui na semana passada.

À medida em que as notícias forem avançando e, por tabela, as suspeitas, o caldo vai engrossando e o pedido de CPI pode terminar virando um projeto de resolução que, se aprovado em plenário, terá efeito automático. Mas isso também não é para agora. O cálculo é avançar com isso no segundo semestre, sob a justificativa de que, quanto mais perto do ano eleitoral, mais cercado fica o governo.
O perigo nesse jogo é o feitiço virar contra o feiticeiro e Dilma, acuada, terminar vista pelo povo como uma vítima de congressistas que só se interessam por cargos. Afinal, o governo venceu a batalha da comunicação em torno da medida provisória que reduz a tarifa de energia. E, se o Congresso deixar de votar essa proposta, vai ficar ruim é para os políticos. Podem apostar.

Enquanto isso, no PMDB…
O líder do partido, Eduardo Cunha, foi um dos primeiros a chegar ontem em Brasília, empenhadíssimo em demonstrar ao governo que não é nem de longe o (único) responsável pelas agruras do Poder Executivo no Congresso Nacional. Certamente, há outros. O problema é conseguir com que o Planalto acredite, uma vez que vem do PMDB grande parte dos problemas governamentais, a começar pelo pedido de CPI da Petrobras, que só atingiu o número de assinaturas por conta do empenho do peemedebista Leonardo Quintão, de Minas Gerais.

A raiz dessa briga é a desconfiança dos peemedebistas de que estão prestes a ser rifados, não só nas eleições estaduais quanto no próprio governo. E, se for assim mesmo, Dilma que se prepare, porque se um Quintão magoado por não ter sido escolhido ministro lá atrás deu esse desgaste com o foco sobre a Petrobras, imagine o que não farão os demais. Está na hora de Dilma e seu vice, Michel Temer, terem aquela DR (discussão da relação), sob pena de os projetos governamentais de interesse da população pagarem o pato dessa rinha política entre o governo e seu maior aliado.

Por falar em aliados…
As ações da CEF, de antecipar a liberação dos recursos, sem dúvida contribuíram para a balbúrdia em torno do Bolsa Família há 11 dias. Falta, entretanto, trazer a público todos os responsáveis. Essa novela ainda terá outros capítulos.

E no Mané…
No domingo, chamou a atenção também a desenvoltura do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, e do ministro Gilmar Mendes entre ministros e parlamentares petistas presentes à tribuna do Governo do Distrito Federal, ao lado do governador Agnelo Queiroz (PT). O clima era de confraternização. O futebol realmente opera milagres.

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