ESTADÃO - 12/05
Fato inusitado, digno de figurar no catálogo dos ineditismos dos quais se orgulha o PT na alucinação de que reinventou o Brasil: a presidente da República é altamente popular, conta com maioria parlamentar esmagadora, tem oposição mirrada e, no entanto, em questões fundamentais perde uma atrás da outra no Congresso.
A lista de revezes mais recentes é conhecida: Código Florestal, lei de distribuição dos royalties do petróleo, reforma do ICMS e marco regulatório dos portos.
Para governo que, em tese, domina 80% do Parlamento, convenhamos, são proezas de monta ter um veto derrubado (royalties), ser derrotado por ação do principal parceiro (PMDB, no Código Florestal), ver uma proposta retaliada por governistas (ICMS), cogitar recorrer a decreto caso deputados e senadores não atendam ao “apelo” de aprovar medida provisória (portos) às vésperas de perder a validade.
A conclusão óbvia é a de que essa base aliada só tem tamanho. Serve para interditar investigações parlamentares, para dar seguimento a manobras como a tentativa de restringir o funcionamento de novos partidos – para criar dificuldades a possíveis adversários eleitorais; serve para garantir tempo de televisão na propaganda política, mas não tem a menor serventia quando se trata de fazer andar o país.
Simplesmente porque a presidente Dilma Rousseff não parece ter a menor noção do que significam termos e expressões como articulação, negociação, construção de consenso, poder moderador, conciliação de interesses, exercício de autoridade delegada, composição de opiniões.
Ignora solenemente os componentes indispensáveis ao funcionamento de uma administração em regime democrático.
Inepta na pilotagem da política – atividade que dá sinais de menosprezar – Dilma acabou por transformar sua enorme base parlamentar em um gigante desgovernado.
Talvez ela não saiba ou não tenha dado ouvidos a quem porventura tentou avisá-la: a mera aquisição de aliados mediante distribuição de ministérios não move o moinho. Pode até não parecer, mas o fisiologismo sozinho não motiva o Congresso. O voluntarismo, a imposição da vontade, os maus modos, a irritabilidade podem até compor uma imagem forte de governante, mas não asseguram a fortaleza de estadista.
O mau relacionamento da presidente da República com o Congresso vem desde o início do governo e não se resolve com agradinhos, jantares, reuniões de aconselhamento simulado e promessas que não se realizam.
É preciso um mínimo de compromisso com o outro (no caso, o Poder Legislativo), que pode até ser visto como vendido mas tem todo o direito de não se considerar mercadoria à disposição para qualquer uso.
Mau caminho. O ministro Guilherme Afif alega que suas críticas ao PT, a Dilma e a Lula eram “retórica de campanha”. Na entrevista que deu dias atrás ao jornal O Estado de S.Paulo repetiu fala do deputado João Paulo Cunha logo no início do governo petista.
Indagado sobre a razão de o partido ter votado como oposição em propostas que viria a incorporar quando se tornou situação, o hoje condenado à espera da ordem de prisão respondeu: “Política”.
Ambos (não são os únicos) partem do princípio de que o eleitorado é pragmático e, portanto, não condena nem presta atenção a essas contradições entre o que dizem e o que fazem os políticos.
A prática mostra que isso até acontece. Mas há um efeito colateral que suas excelências não levam em conta: quanto mais distante ficam suas palavras de seus gestos, maior o passivo de descrédito em relação à atividade política com resultado cada vez mais negativo para quem a exerce.
E credibilidade que se perde dificilmente se recupera.
e ai fica desse jeito?
ResponderExcluire ai fica desse jeito?
ResponderExcluir