sexta-feira, maio 03, 2013

Peter Drucker e a tirania empresarial - JOSÉ PIO MARTINS

GAZETA DO POVO - PR - 03/05

Em meados de 2007, quando grandes bancos dos Estados Unidos apresentaram gigantescos rombos financeiros, começou a estourar a crise imobiliária norte-americana. Daí em diante, a crise se alastrou e contaminou toda a economia do país. A partir de 2008, a tragédia ganhou o epíteto de “crise financeira mundial”, em razão de sua força destruidora nos Estados Unidos e na Europa.

Em meio ao cipoal de problemas, George Bush anunciou um imenso pacote de ajuda financeira para salvar bancos e empresas, na tentativa de evitar o fundo do poço. Logo após ser salva com dinheiro público, a gigante de seguros AIG decidiu pagar 165 milhões de dólares de bônus aos mesmos executivos que arruinaram a empresa e ajudaram a quase levar o sistema financeiro nacional para o buraco. Esse episódio nos remete a Peter Drucker.

Austríaco radicado nos Estados Unidos, onde veio a falecer em 2005 aos 96 anos, Peter Drucker é considerado o pai da administração moderna e seu principal expoente. Ao longo de sua extensa carreira, Drucker escreveu 39 livros e foi ironizado algumas vezes por dizer coisas que pareciam não fazer sentido ou por parecerem um tanto exageradas. No prefácio da edição de 1973 do livro Management: Tasks, Responsibilities, Practices, Drucker fala da tirania empresarial e do perigo que ela representa.

“No período curto de 50 anos, nossa sociedade tornou-se uma sociedade das instituições, na qual cada tarefa social relevante tem sido confiada às grandes empresas, desde a produção de bens econômicos até os serviços de assistência médica, seguro social, previdência e educação”, dizia ele; para acrescentar que “fazer nossas instituições atuarem de forma responsável, autônoma e em alto nível é a única salvaguarda da liberdade e da dignidade. Mas são os administradores que fazem as instituições atuarem. Uma administração responsável é a alternativa à tirania e nossa única proteção”.

Nesse texto de 1973, Drucker dizia estar horrorizado com a ganância dos executivos, e muitos acharam que ele estava sendo pessimista e sentimental demais. “As empresas estão longe de ser perfeitas. Como os gestores sabem, elas são muito difíceis; cheias de frustrações, tensão e atritos; desajeitadas e incômodas. Mas elas são as únicas ferramentas que temos para alcançarmos propósitos sociais tais como produção e distribuição de bens, assistência médica, serviços pessoais, educação”, assim ele expressava.

Diante dos desmandos e desatinos de alguns empresários e executivos, cabe à sociedade e ao governo dotar o país de legislação eficiente para regular as atividades empresariais e punir exemplarmente o comportamento antiético e fraudulento. Drucker ainda queria que as empresas colocassem o ser humano no foco de suas preocupações. Sem descuidar dos imperativos da eficiência e da competição, os executivos deveriam impedir que a empresa se tornasse uma máquina trituradora de gente e geradora de infortúnio e infelicidade para funcionários e clientes.

Relendo Peter Drucker, vemos que, quando o bolso do acionista ou do executivo é abastecido à custa do empregado, do cliente e do contribuinte – como ocorreu no caso dos bônus aos homens que destruíram a AIG – é hora de a sociedade e dos políticos reagirem com regulação inteligente. Como disse o filósofo André Comte-Sponville: “Na ausência da ética, a lei”.

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