segunda-feira, maio 13, 2013

O bandido e o frentista - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 13/05

Todos ficam preocupados com o direito dos bandidos. E os direitos de quem trabalha?


A população está entregue às traças, enquanto nos palácios, gente inteligentinha de todo tipo (com o mesmo caráter da aristocracia pré-revolucionária de Versailles) discursa sobre "direitos humanos dos bandidos", toma vinho chileno, paga escola de esquerda da zona oeste de São Paulo que custa 3 mil reais mensais e vai para Nova York brincar de culta.

A inteligência ocidental está podre, mergulhada em seus delírios de reconstrução do mundo a partir de seus três gnomos Marx, Foucault e Bourdieu.

Nós, desta casta de ungidos, desprezamos o povo comum porque pensamos que o que eles pensam é coisa de gente ignorante.

Outro dia fui abordado por um frentista num posto perto da minha casa na zona oeste (perto daquela praça destruída aos domingos pelas bikes --"bicicletas" na língua de pobre). Ele disse: "O senhor não é aquele filósofo da televisão?". E continuou: "Não pense que porque somos proletários, não entendemos o que o senhor fala na televisão".

Quem advinha do que ele queria falar? Este posto sempre foi 24 horas e agora não é mais. Por quê? Disse ele que estavam todos, do dono aos funcionários, cansados de serem assaltados toda noite. Disse ele: "O ladrão vem na sua moto, para, põe a arma na nossa cara, rouba tudo, ameaça nos matar e vai embora. Nada acontece".

E mais: "E fica todo mundo preocupado com o direito dos bandidos. Onde ficam os direitos de quem trabalha todo dia?".

Vou dizer uma blasfêmia, dirão alguns dos meus amigos da casta inteligentinha: se preocupar com direitos dos bandidos é apenas um modo chique de continuar se lixando para o "povo", assim como os coronéis nordestinos sempre se lixaram, a diferença agora é que a indiferença para com o destino das pessoas comuns vem regada a vinho chileno e leituras de Foucault.

A "elite branca letrada" é completamente indiferente para com o destino desse frentista.

Ele pede para que a polícia "acabe com os bandidos para ele poder trabalhar e a mulher e filhos dele não serem mortos". Ingênuo? Simplista? Talvez, mas nem por isso menos verdadeiro na sua demanda "por direitos".

A verdade é que estamos mergulhados num blá-blá-blá pseudocientífico das razões que levam alguém a ser bandido, seja qual for a idade, e enquanto isso esse frentista se ferra.

O que terá acontecido, que de repente a elite letrada e pública ficou tão "sensível ao sofrimento social" e tão indiferente ao sofrimento desta "pequena gente honesta"? Até escuto alguns de nós dizer: "São uns mesquinhos que só pensam nas suas vidinhas". Quem sabe alguns mais anacrônicos arriscariam: "Isso é resquício do pensamento pequeno burguês".

A verdade é que nós estamos pouco nos lixando para o que essa gente que anda de metrô, trem e quatro ônibus sofre. Todo mundo muito "alegrinho" com a PEC das empregadas domésticas, mas entre elas e os bandidos a vítima social são os bandidos.

A pergunta que não quer calar é: por que em países islâmicos, por exemplo, com alto índice de pobreza, não existe criminalidade endêmica? Será que tem a ver com medo da terrível punição corânica?

Dirão os inteligentinhos que a causa da criminalidade é social. Hoje em dia, "causa social" serve para tudo, como um dia foram os astros e noutro a vontade dos deuses.

Não nego que existam componentes sociais de fome e sofrimento na causa do comportamento criminoso, mas ninguém mais leva em conta que a maioria que vira bandido porque não quer trabalhar todo dia como esse frentista.

Ser bandido é, antes de tudo, um problema de caráter. E esse frentista, pobre também, sabe disso muito bem, só quem não sabe é minha casta de inteligentinhos.

O que dirão os inteligentinhos quando esse contingente de verdadeiras vítimas sociais do crime começarem a se organizar e matar os bandidos a sua volta? Pedirão a alguma ONG europeia para proteger os bandidos dessa gente "mesquinha" que só pensa em sua casinha, seus filhinhos e seu dinheirinho?

Acusarão essa gente humilhada e assaltada de não ter "sensibilidade social"? Dirão que soltar bandidos na rua é "justa violência revolucionária"?

6 comentários:

  1. João de Deus9:12 AM

    A pergunta é porque uns querem trabalhar e viver honestamente e os outros não querem?
    É uma questão de caráter? Em uma porcentagem, pode ser. Mas aonde ou porque foi criado esse caráter criminoso ou vagabundo?
    Nós poderemos dar mil voltas em perguntas, mas sempre teremos a resposta que em algum momento o lado social falhou.
    Zerar esses crimes me parece impossível - ver EUA ou países com IDH altíssimos - mas diminuir para um índice aceitável - sempre passará pelo social.

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  2. O João de Deus é inteligentinho.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O Pondé é um péssimo aluno: faltou às aulas principais de filosofia, pois conhecer é sempre conhecer pela causa. Não se trata de justificar a atitude do bandido e de deixá-lo impune, nem dizer que bandidagem é força revolucionária, pois os criminosos não exigem para si nada mais do que o que é também interesse da classe média burguesa: carro, uísque e roupa de marca.
    A questão é simplesmente tentar entender porque algumas são pessoas a agir de forma completamente irracional, violenta, ou de qualquer forma onde o fronteiriço da moralidade seja deitado por terra, na esperança de, graças ao conhecimento, poder mudar essas condições. Sejam condições sociais e históricos, sejam sobre a própria natureza reprimida pelo signo da barbárie ocidental (a civilização).
    Como diz o Wilhelm Reich, o Pondé é o típico de Zé-Ninguém, que por não conseguir entender tem medo de Foucault e de Marx. Esse texto devia ir para a sua série: como filosofar com uma cruz.
    Em palavras mais grossas: o Pondé é um cabaço!

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  5. Anônimo9:46 AM

    Ponde, otimo texto..vc e um oasis neste deserto de ideias que se tranformou o Brasil . Basicamente , todos nos nos movemos pra atrair o prazer ou para rechaçar a dor. Pleasure or pain. Alguns criminosos se motivam pela adrenalina, o conforto e status social do banditismo em suas comunidades e é claro o prazer proveniente . e claro sabendo da impunidade de um estado fraco , ou seja , sem dor melhor ainda. O Brasil e um pais que sempre atraiu criminosos, vide batisti e outros. A lei , a ordem e a honetidade sao coisas de burgueses, e os engenheiros socias que comandam o Brasil repudiam esses valores,

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  6. É claro pra muitos que a maior, não a única, causa da violência é a diferença socioeconômica, que se inicia pela lei da herança, onde um sujeito, que ainda não demonstrou seu mérito, recebe um berço de ouro.
    É posto pra todos que se propõem a ver que os criminosos buscam aquilo que lhes foi negado desde o berço. Se a criminalidade se desse só por mal-caratismo não se noticiaria aqueles que matam e levam pertences.

    Talvez a análise da música "Um homem na estrada", do grupo Racionais MC's, nos dê uma ideia da fábrica de criminosos.

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