sexta-feira, maio 17, 2013

Jovialidade - RUY CASTRO

FOLHA DE S. PAULO - 17/05
RIO DE JANEIRO - O técnico da Seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, deixou Ronaldinho Gaúcho de fora da convocação para a Copa das Confederações. Alguns vibraram ao ouvir a notícia, outros discordaram e todos ficaram surpresos --ninguém esperava por isso. Ao lhe pedirem uma explicação, Felipão, sem dizer o nome do jogador, admitiu que sua decisão avaliara os prós e os contras: "Podemos ter certa dificuldade sem a experiência. Mas também podemos ganhar com a jovialidade".

Jovialidade? O que diz o "Aurélio"? "Jovialidade. Qualidade de jovial". Donde: "Jovial. Alegre, prazenteiro, folgazão. Engraçado, espirituoso, chistoso". O "Houaiss" é ainda mais descritivo: "Jovial. Que tem e manifesta alegria. Que gosta de divertir-se. Alegre, contente, folgazão. Chistoso, engraçado, espirituoso. Influenciado pelo planeta Júpiter [Jove], símbolo da felicidade. Ver sinonímia de alegre e brincalhão".

Pois, se Felipão queria jovialidade em seu time, por que abriu mão justamente do jogador mais jovial de todos? O mais alegre, contente, prazenteiro e folgazão? O que mais gosta de se divertir? O mais influenciado por Júpiter? Ronaldinho Gaúcho, sozinho, concentra todas essas definições de jovialidade --como bem se lembram as torcidas de Paris Saint-Germain, Milan, Seleção brasileira de 2006 e Flamengo.

Está bem, eu sei que, ao usar a palavra jovialidade, Felipão queria dizer que, com a não convocação do balzaquiano Ronaldinho, havia baixado a média de idade da seleção --inoculando-lhe juventude. Sei também que não se espera de Felipão, ex-beque especialista em bola no mato, que seja um leitor de João Cabral ou Ferreira Gullar, mestres da palavra simples e exata.

Ele apenas segue a jovial tradição brasileira de, ao se ver diante de um microfone ou câmera, tentar falar difícil para parecer culto.

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