segunda-feira, maio 20, 2013

A educação ultrajada - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 20/05

O clima de violência crescente em sala de aula têm explicações que começam num ambiente familiar normalmente desestruturado e, por isso, precisa ser enfrentado de forma articulada.


Pesquisa realizada recentemente pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo chama a atenção para uma realidade comum à maioria das unidades da federação: nada menos de 44% dos professores entrevistados já sofreram algum tipo de violência na escola, entre agressões físicas, verbais, assédio moral e bullying. O comportamento agressivo por parte de alunos é apontado como um dos responsáveis por danos à integridade psicológica dos educadores, além de figurar entre as principais causas da desistência do magistério. No momento em que a qualidade do ensino formal constitui-se numa das questões centrais da pauta de prioridades do país, esta é uma questão central, pois demonstra o quanto a educação recebida em casa tende a ser decisiva para o futuro de crianças e adolescentes e para o do próprio país.
O que o levantamento indica de mais preocupante é um número cada vez maior de professores, particularmente os do Ensino Médio, exposto à violência de grupos de alunos com distúrbios de comportamento. A maioria dos educadores já presenciou estudantes sob o efeito de drogas, alcoolizados ou portando armas brancas e de fogo. Sob esse clima de hostilidade permanente, são comuns casos que vão desde pressão psicológica e bullying até puxões de cabelo, pontapés e agressões de maior gravidade, além de riscos aos demais colegas e de danos à estrutura física dos estabelecimentos de ensino. Uma das consequências é que, nesse ambiente, as tensões atrapalham o processo de aprendizado. Ao mesmo tempo, cada vez menos professores se mostram em condições de continuar desafiando o medo no cotidiano para transmitir conteúdos.
O clima de violência crescente em sala de aula têm explicações que começam num ambiente familiar normalmente desestruturado, pouco preocupado em transmitir valores mínimos de respeito ao próximo, e, por isso, precisa ser enfrentado de forma articulada. No momento em que se intensifica a discussão sobre a qualidade do ensino formal no país, a educação familiar aparece como um obstáculo difícil de transpor. Essa não é atribuição da escola e sim um dever de casa que os pais não estão fazendo, por razões difíceis de serem enfrentadas de um momento para outro.
A questão é que, enquanto o desafio não é enfrentado, as deficiências do ensino, explicadas por razões como a falta de motivação de professores e alunos, só tendem a se agravar ainda mais, com prejuízos generalizados para os brasileiros e para a imagem do país de maneira geral. Muitas escolas vêm investindo em medidas preventivas, com ênfase em alternativas como mediação ou arbitragem, além de envolvimento dos pais, quando há condições para isso. Sempre que uma agressão é consumada, porém, é óbvio que a escola precisa agir com o rigor que o aluno não encontrou em casa, para não passar também a ideia de tolerância com a violência.

Um comentário:

  1. "Sempre que uma agressão é consumada, porém, é óbvio que a escola precisa agir com o rigor que o aluno não encontrou em casa, para não passar também a ideia de tolerância com a violência".

    O problema está exatamente aí. A escola precisa criar e recriar "ações de rigor" (de mentirinha) e muitas vezes fazer vistas grossas a certas grosserias, pequenas diante de tantas tão maiores, porque não tem amparo nenhum na legislação brasileira. Crime é agir em desacordo com o ECA. Enquanto isso ficamos reféns dos supostos educandos, que no campo do saber, bem cedinho, aprenderam a cantar uma musiquinha que diz assim: " não vai dar nada pra mim..." Mas, duro mesmo é ter que ouvir, no mínimo, que o copo não é mais adequado para a ingestão de líquidos e fazer cara de "já sei, aprendi no primeiro dia em que tentei dar aula. Vocês alunos têm mesmo muito a nos ensinar..."

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