segunda-feira, abril 08, 2013

Vida longa e próspera - LULI RADFAHRER

FOLHA DE SP - 08/04

Passar de uma expectativa de vida de 70 anos para 130 anos é muito mais difícil do que foi chegar até aqui


O aumento da expectativa de vida é uma conquista e tanto. Empolgados como quem viu o homem pousar na lua, muitos projetam longevidades extremas nas próximas décadas. Mas passar de uma expectativa de vida de 70 anos para 130 anos é uma tarefa muito mais árida do que foi chegar até aqui. Mesmo exceções, septuagenários não eram incomuns na Antiguidade. Já centenários vigorosos e produtivos são raríssimos.

O desafio é grande e envolve uma reforma completa no sistema de saúde. Não se imagina que profissionais sobrecarregados e mal pagos continuem a sustentar uma estrutura piramidal em que uma pessoa precise saber de tudo, decidir na hora, identificar sutilezas, detectar mentiras, estar disponível e cobrar pouco.

O paciente também precisa fazer a sua parte, abandonando a passividade com que tratam seus exames clínicos. Da mesma forma que hoje todos pensam na alimentação e na atividade física, daqui a pouco a tecnologia ajudará muitos a realizar pequenos autodiagnósticos preventivos diários, tornando-os corresponsáveis por aquele que deveria ser seu maior patrimônio.

A miniaturização permite novos produtos como o "lab-on-a-chip", que integra funções de análise em um adesivo de poucos centímetros quadrados colado na pele. Por trabalhar com volumes pequenos, ele usa menos reagentes e chega a um diagnóstico rápido e barato. Ainda não é universal nem infalível, mas é um avanço. Outros aparelhos, como o Scout, são como smartphones capazes de identificar e analisar dados vitais em segundos, enviando as informações para um aplicativo no smartphone que registra o histórico e, conforme o caso, indica medicamentos e postos de saúde próximos.

Do outro lado do balcão, sistemas de inteligência artificial podem revolucionar as consultas médicas. Testado contra especialistas humanos no programa "Jeopardy!" em 2011, o supercomputador Watson, da IBM, venceu com facilidade. Sem acesso à internet, mas com cerca de 200 milhões de páginas de conteúdo vindo de bases de dados diversas, ele se dedicava a buscar evidências, analisá-las, gerar hipóteses e propor respostas em milissegundos. E aprender com cada decisão.

Ocupando a modesta posição de 94º entre os 500 computadores mais rápidos do mundo, ele hoje custa alguns milhões e ocupa uma sala grande. Mas, como os processadores que colocaram o homem na lua ou ganharam a primeira partida de xadrez contra um humano, acabará barateado e miniaturizado. Ou tornado "invisível" -como os servidores do Google -na nuvem.

Hoje Watson trabalha com equipes médicas para aprender contextos e particularidades de doenças como o câncer de pulmão. Poucos duvidam que algo como ele se tornará a principal obra de referência clínica mundial em um futuro próximo. Apoiado pela tecnologia, o especialista fica mais bem informado para dar a palavra final.

Essa reforma conceitual distribuiria melhor as cargas e as responsabilidades do sistema de saúde, criando novas oportunidades de carreira e dando aos especialistas tempo e recursos para cuidar de suas especialidades, uma situação ideal para países, como o nosso, onde a população envelhece e a previdência beira o colapso.

Mediado por interfaces, o contato regular e preventivo seria tão discreto que passaria despercebido. Como o Dr. McCoy em "Star Trek 4", os novos médicos, auxiliados por seus aparelhos portáteis, seriam reconhecidos por seu verdadeiro talento.

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