domingo, abril 21, 2013

Transição no Paraguai - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 21/04

Eleição presidencial traz chance de normalizar a ordem política no vizinho; Brasil deve liderar processo de retorno ao Mercosul


O Paraguai vai às urnas hoje para escolher seu novo presidente, dez meses após o impedimento de Fernando Lugo pelo Congresso. A expectativa é que o resultado ajude a estabilizar a política do país e acelere a normalização das relações de Assunção com seus vizinhos, principalmente o Brasil.

Embora as pesquisas eleitorais careçam de confiança, dá-se como favorito o candidato Horacio Cartes, 57, do tradicional Partido Colorado. A agremiação governou o país por 61 anos, até ser derrotada pelo esquerdista Lugo, em 2008.

Há relativamente pouco tempo na política, Cartes, um controvertido empresário do setor de cigarros, usou seu poder econômico para liderar e unificar um partido fraturado após a perda do poder. Pairam sobre ele suspeitas de contrabando e lavagem de dinheiro.

Pragmático, Cartes tem sinalizado que almeja uma volta rápida do Paraguai ao Mercosul --o país foi suspenso do bloco de forma abusiva após o impeachment de Lugo. Chamam a atenção, além disso, posições primitivas em temas morais, como a homossexualidade --já disse, por exemplo, que "atiraria nos próprios testículos" caso tivesse um filho gay.

O principal oponente é Efraín Alegre, 48, do Partido Liberal, sigla a que pertence o atual presidente, Federico Franco (ele assumiu em julho por ser vice de Lugo).

Ligado a um setor menos conservador da política paraguaia, Alegre defende volta condicionada ao Mercosul. Não poupa o bloco de merecidas críticas pela suspensão do país e pela hipocrisia diante do autoritarismo na Venezuela.

Internamente, a campanha eleitoral sem sobressaltos e a recente modernização do sistema de voto sugerem a possibilidade de que o Paraguai possa concluir bem uma transição que começou mal. Embora Lugo tenha sido deposto do cargo em acordo com a Constituição, houve evidente cerceamento da defesa, pois o destituído teve poucas horas para exercê-la.

O próximo presidente paraguaio terá o desafio de aproveitar o bom momento da economia --segundo o FMI, o PIB deve crescer 11% neste ano-- para diversificar o país, hoje excessivamente dependente do agronegócio.

Quanto ao Brasil, que está sem embaixador em Assunção desde a saída de Lugo, deveria apoiar um regresso honroso do Paraguai ao Mercosul, a fim de minimizar o erro da inclusão da Venezuela à revelia do veto pelo Senado paraguaio.

A insatisfação com o preço da energia de Itaipu vendida ao Brasil segue muito popular na agenda político-eleitoral do Paraguai. Mais uma razão de interesse nacional para tratar o vizinho com mais respeito e menos ideologia.

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