quarta-feira, abril 03, 2013

Remoção de obstáculos - DORA KRAMER

O ESTADO DE S. PAULO - 03/04
Fácil não vai ser, o senador Aécio Neves tem perfeita consciência disso, mas acha que também não é uma missão tão impossível assim en­frentar o governo na eleição presi­dencial de 2014.

"Estamos nos preparando, saben­do que o segredo é entender o eleito­rado e despertar a emoção das pes­soas", diz ele, com o cuidado de in­cluir um "se eu for mesmo escolhi­do candidato do PSDB" ao início de cada frase.

Como nessa altura a ressalva é um recurso de linguagem meramente formal, às vezes esquece o protocolo e discorre livremente sobre o roteiro que já começou a cumprir para cons­truir uma candidatura competitiva,

O trabalho por ora é de remoção de obstáculos. Primeiro trata da consolida­ção do apoio da seção paulista do parti­do a fim de superar a "agenda da divi­são". Sem isso, é tempo perdido, confor­me ensinaram as últimas três derrotas presidenciais.

O passo seguinte, a eleição (de prefe­rência por unanimidade) para a presi­dência do PSDB. Em maio, numa con­venção que produza fotografia simbóli­ca: Fernando Henrique Cardoso repre­sentando o legado da estabilidade eco­nômica, José Serra traduzindo unidade política, os jovens eleitos ou com bom desempenho na eleição de 2012 retra­tando o "time novo" e o comandante do partido subentendido como candidato a presidente da República.

E por que a necessidade de ter a presi­dência do PSDB como suporte para a candidatura se esta não é uma etapa in­dispensável nem uma prática comum nos partidos?

Em primeiro lugar, porque o PSDB não é um partido comum. Tema marca de divisão, da ausência de comando e de referência de ação e pensamento.

Basta lembrar que o ex-presidente Fer­nando Henrique até bem pouco atrás falava sozinho em seus alertas em defe­sa de uma urgente reorganização geral do partido. Suas declarações tinham mais repercussão entre petistas que no meio dos tucanos.

Quando o candidato está no coman­do, ainda que delegue as funções admi­nistrativas fica no controle político da máquina. Um exemplo: tem poder de influir nas alianças regionais para que elas acompanhem os interesses da can­didatura presidencial.

Outra razão, esta apontada pelo pró­prio Aécio: "Se estiver na presidência, não ficarei o tempo todo sendo ques­tionado sobre a divisão do partido nem preciso falar oficialmente como candidato".

Resolvida a questão da tomada das rédeas, o senador se impõe um prazo de "seis a oito meses" para convencer as pessoas de que pode representar uma boa alternativa ao governo do PT.

Avisa logo que o estilo vai continuar ameno. Na forma, pelo menos. "Com aju­da de um esquema bem profissional", ele ainda ajusta os detalhes de lingua­gem, busca entender as demandas do eleitorado, incorporar os maneirismos da sedução, em suma: "Encontrar o melhor caminho para chegar lá".

O conteúdo está escolhido. O alvo, claro, a presidente Dilma Rousseff. "Ela foi eleita com fama de boa gesto­ra. Vou mostrar que não é nada disso, que as questões reais não foram resol­vidas, que não tem compromisso fir­me com a inflação e tem uma base política imensa que aprisiona e parali­sa o governo."

Na visão de Aécio Neves, o aumen­to do endividamento das famílias, o efeito da inflação sentido no preço dos alimentos e a queda no consu­mo darão sustentação factual ao dis­curso.

A tática do ataque está entendida. E a defesa, o que propõe? Duas verten­tes: uma, resgatar passado, não como bandeira, mas como "vacina" para não deixar que o PT pose de dono da estabilidade econômica, inventor dos programas sociais e defensor de patrimônios como a Petrobrás.

Outra, "explicar que se governos do PSDB já fizeram bastante pode­mos fazer mais e melhor, mostrando que o PT de repente precisa de um novo estágio na oposição. Até para re­ver e recuperar seus antigos valores".

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