sábado, abril 06, 2013

Os números e a política - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 06/04
Pesquisas sobre gastos do governo sempre servem de largada para reportagens. A partir dela, abre-se o debate sobre eficiência de gestão e negociações dentro do próprio Executivo e com o Legislativo
Os números nunca explicam tudo, mas sempre servem de parâmetro e, no caso, do jornalismo, podem significar o início de reportagens. Na última semana, o Correio publicou dois levantamentos distintos sobre o governo Dilma Rousseff que revelam como política e orçamento público andam de mãos dadas, para o bem e o mal do cidadão. Os textos partiram de dados para apresentar bastidores do poder.

A primeira reportagem foi publicada no último domingo com o título "Preço da fidelidade aumenta com Dilma", e mostrou que o custo para manter a base aliada no Congresso é 160% maior na atual gestão do que no governo Fernando Henrique. A partir do mote das negociações abertas com o PR, os repórteres Paulo de Tarso Lyra e Leandro Kleber conseguiram chegar ao valor da aliança, do voto dos "fiéis".

Com base no cálculo do custeio mais os investimentos dos ministérios dividido pelo total de deputados e senadores aliados, foi possível chegar ao custo por parlamentar. No derradeiro mandato de Fernando Henrique, o valor por voto era de R$ 718 milhões, cifras atualizadas a partir da inflação. Para este ano, cada voto "sim" a projetos defendidos pelo Planalto custará R$ 1,87 bilhão aos cofres públicos.

Os governistas podem argumentar que a receita das gestões petistas - de Dilma e de Luiz Inácio Lula da Silva - aumentou, levando em conta o crescimento do Produto Interno Bruto nos últimos anos. Ou mesmo que tanto Dilma quanto Lula reergueram a máquina pública, com contratações, salários e distribuição de programas sociais. Mas o custo por parlamentar aumentou, de qualquer forma. Tão importante quanto a crítica é a possibilidade de discutir políticas. Apresentar a distribuição do poder a partir do volume de recursos é apenas uma forma de estimular tal debate.

Na lona
A segunda reportagem, publicada na última quinta-feira - dia seguinte à posse do novo ministro dos Transportes, César Borges -, mostrou que, em 2012, a pasta conseguiu investir menos da metade do previsto no Orçamento. Os textos produzidos por Leandro Kleber e Karla Correia mostram que, desde o escândalo de superfaturamento - em 2011, na gestão do então ministro, Alfredo Nascimento -, as torneiras foram fechadas. Por conta das auditorias, dos problemas básicos de gestão e da própria burocracia, os camaradas que vieram depois de Nascimento não conseguiram executar os recursos.

Segundo a reportagem, dos R$ 23,2 bilhões - a assessoria do órgão cita R$ 17 bilhões - previstos para todo o ano passado, apenas R$ 10,5 bilhões foram desembolsados pelos Transportes. Quando se prepara um plano de orçamento, leva-se em conta as necessidades da pasta - no caso, mais específico da população, que usará os serviços prestados por determinado órgão. Ao estabelecer que seriam necessários "X" para cuidar da infraestrutura, deve-se acreditar nas prioridades da gestão, na eficiência.

Quando se gastou metade do valor, ficou faltando a outra parte, por impedimentos técnicos e políticos. Os números apresentados pelo Correio revelam como a corrupção - diríamos aqui, suposta - afeta a máquina pública, não apenas ao longo do crime ou mesmo durante a descoberta do escândalo, mas também depois de um longo período. Para se ter uma ideia, os investimentos da pasta em 2012 foram menores do que nos dois anos anteriores. É um fato raro na administração pública, um caso de estudo para não se repetir, pois. Mais uma vez, os números puxaram o debate.

Outra coisa
As autoridades brasileiras precisam entender de uma vez por todas que a sociedade não tolera mais privilégios e mordomias, como se estivéssemos a viver em país atrasado, ainda distante da transparência. Na edição de ontem, o Correio mostrou que o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira, usa o carro oficial para ir à academia para fazer exercícios. No vídeo, ele aparece com uma garrafinha de água, camiseta branca, bermuda azul e tênis amarelo. Malha - ou melhor, estava indo malhar - com o dinheiro público.

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