segunda-feira, abril 01, 2013

O xadrez de Campos - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 01/04

Um inimigo íntimo do governador Eduardo Campos critica o modo como o político movimenta as peças. No meio da partida, o pernambucano inclina o tabuleiro na própria direção e o adversário não consegue mais ver as jogadas. “A partir daí, fica impossível saber qual a estratégia a ser tomada”, diz o homem, ressentido com o avanço de Campos na própria base eleitoral.

Se jogar xadrez com um bom oponente é difícil, imagine quando o camarada esconde as peças do tabuleiro. É evidente que tal imagem é um símbolo distante, afinal Eduardo Campos se movimenta a partir de regras definidas desde sempre, e joga pelo simples motivo de que o deixam participar da partida. Com votos dos pernambucanos, o governador tem legitimidade política para as ações.

Mas a história do jogo de xadrez serve de ilustração para os ressentidos e não deixa de refletir uma situação atual, onde ninguém — adversários, aliados ou analistas políticos — consegue avaliar de maneira clara as ações de Eduardo Campos. Se não chega a esconder as peças, o governador evita qualquer sinal efetivo sobre a disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem.

O detalhe é que o jogo do governador sempre funcionou no plano local, a partir do momento em que conquistou o território pernambucano e passou a ser um cabo eleitoral infalível. No cenário nacional, entretanto, Eduardo Campos ainda busca musculatura, principalmente no partido — apesar de cada vez mais incensado por aliados insatisfeitos com Dilma e, mais diretamente, pela oposição.

Um dos desafios dele é tentar unir o partido em torno do próprio nome, algo complexo quando se precisa dos irmãos Gomes, Cid e Ciro. Depois, precisa passar a ser conhecido nacionalmente, coisa ainda distante, mas nada impossível. Por último, o passo mais importante: saber o momento exato do rompimento com o PT de Dilma e Lula. Esse um desafio para um verdadeiro estrategista.

Enquanto o tempo do rompimento com o governo Dilma não se estabelece, ele deixa a cúpula petista quase amarrada. Uma das saídas apresentadas por assessores palacianos seria declarar guerra e cobrar de uma vez por todas o alinhamento ou o desembarque de Eduardo Campos e do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Uma decisão delicada de ser tomada, pois.

Romper com o PSB é dar a chance ao partido de Campos e de Bezerra de sair para a rua com discurso contra um Planalto raivoso, fechado às críticas ou mesmo intolerante com quem tem planos de servir ao Brasil. Ao mesmo tempo que carimba o governador pernambucano como adversário declarado, antes do anúncio do camarada. Assim, o governo federal não manobra publicamente contra o PSB.

Ao não agir, o Planalto espera aos poucos colar a imagem de traidor em Campos. Na estratégia governista, ele seria encarado como um infiel que se aproveitou do poder central o quanto pôde e resolveu abandonar o barco ao perceber o momento exato para confirmar o voo para Brasília. Por mais que seja o único movimento possível, o governo tem se aproveitado disso muito bem.

Na semana passada, todas as ações de Dilma na cidade de Serra Talhada, no interior pernambucano, apontavam para Eduardo Campos como um potencial traidor. Com um discurso montado com a ajuda do marqueteiro João Santana, a presidente conseguiu ganhar a batalha, estocando o governador, que jogava em casa, onde achava que ganharia. Nada poderia ter irritado mais o político pernambucano.

Um xeque?

Amanhã, em Fortaleza — durante encontro entre governadores e Dilma —, Campos quer dar o troco. Na agenda oficial, a inauguração de uma escola estadual e a entrega de ônibus e retroescavadeiras para os cearenses. O pernambucano vai propor a criação de um fundo nacional de desenvolvimento municipal, tal qual o implementado no estado, e pedirá o perdão de parte das dívidas dos agricultores. Será a tentativa de xeque em Dilma. O jogo será aberto. Resta saber qual será o contra-ataque da presidente.

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