domingo, abril 14, 2013

Duas damas - SUELY CALDAS

O ESTADO DE S. PAULO - 14/04

Há algumas semelhanças e muitas diferenças entre Margaret Thatcher e Dilma Rousseff. Nas semelhanças, o papel de Thatcher cresce por ter sido a pioneira, a principal responsável pela introdução mundo afora de uma bem-sucedida agenda econômica liberal hoje aceita e praticada até em países comunistas (China, por exemplo). Com as privatizações e redução de impostos de seu governo, Dilma Rousseff reprisa parte da agenda que Thatcher criou e aplicou no Reino Unido, nos anos 80, e que o rival Partido Trabalhista condenou na época, tachando-a de neoliberal. Aliás, foi quando a palavra neoliberal - simplesmente uma doutrina econômica -passou a ser pronunciada como xingamento pela voz da esquerda.

As diferenças se dão principalmente no terreno político. A começar pela aversão ao paternalismo de Estado que Thatcher professou desde o primeiro dia de seus 11 anos de governo, por considerar que todo homem é responsável por si mesmo. Dilma acredita no Estado provedor e não só para os pobres, mas também para empresários escolhidos a dedo que encontram no BNDES um caixa generoso para seus negócios. Enquanto a inglesa eliminou subsídios, favores e privilégios de empresas viciadas em depender do Estado, a brasileira distribui facilidades com recursos públicos para grupos empresariais eleitos.

As diferenças também se acentuam na política social: ao concentrar esforços em recuperar a combalida economia inglesa quando se tomou primeira-ministra, em 1979, Thatcher eliminou programas sociais e reduziu verbas para saúde e educação, ainda hoje mantidas sob controle do Estado. Já Dilma aumentou os repasses para o Bolsa-Família, criou outros programas sociais, mas manteve intacta a porção de política social que privilegia os ricos e pouco investe em saneamento básico e combate à violência. Dilma dá ênfase ao ideal de igualdade e Thatcher, ao de liberdade

Mas entre elas há uma diferença fundamental, que transcende seus mandatos, ganha dimensão e cresce para ocupar lugar na História: independentemente de erros e acertos, Thatcher trouxe para sua gestão um Programa de Governo com letra maiúscula, políticas com rumo certo, com as quais assumiu compromissos e se manteve coerente até seus últimos dias de governo. Mérito reconhecido até por rivais políticos históricos. Centrado na desregulamentação do setor financeiro, flexibilização do mercado de trabalho e privatização de estatais, o programa de Thatcher modernizou a Inglaterra, tirou a economia do atoleiro, derrubou a inflação de 13% e impulsionou o crescimento.

E exatamente o que falta a Dilma. No governo Lula, mal ou bem, ela ensaiou um plano de governo com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Mas, ao chegar ao Palácio do Planalto, ela se desorientou, perdeu o rumo, vive de apagar incêndios, não sabe para onde ir. De início, acreditou que bastava aumentar o emprego, a renda e o consumo que investimento e crescimento viriam a reboque. Não vieram. Aí despertou para expandir a infraestrutura, mas sua equipe não consegue preparar licitações capazes de atrair investimento. Além disso, as miúdas interferências do governo, freqüentes mudanças de regras e agências reguladoras fracas e submissas ao poder político acabam por assustar e afastar os melhores investidores. O País passou a conviver com inflação em alta e crescimento em baixa. Para onde ir? É pergunta sem resposta.

Nos 32 anos que separam o início das gestões de Thatcher e de Dilma, o mundo mudou, o sonho socialista desmoronou com o Muro de Berlim, posições ideológicas também mudaram. Tanto é que a autonomia do Banco Central -bandeira da direita atacada pela esquerda nos anos 80 - não teve a adesão de Thatcher e chegou à Inglaterra pelas mãos do trabalhista Tony Blair, em 1991. Também no Brasil o PT sempre fez oposição estridente às tentativas de discutir essa questão no Congresso. Pois não é que agora o jovem senador petista Lindbergh Farias (RJ) virou defensor da ideia e promete levá-la à votação na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado!


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