sábado, abril 27, 2013

Corrida pra lá de maluca - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE  - 27/04

Zero é a dúvida do descaramento político do projeto que dificulta a criação de legendas. A ideia até parte de um belo conceito, o veto ao oportunismo partidário, a chance de bloquear o repasse de recursos e o tempo de televisão a meros aventureiros, gente interesseira, disposta apenas a barganhar cargos e verbas. A cretinice, porém, está no fato de a ação valer de imediato, sem um prazo para adequações e sem impugnar agremiações oficializadas nos últimos três anos — ou seja, o período que compreende a atual legislatura. Se antes liberaram, agora tentam sufocar novas siglas.

E pior: inviabilizar os planos de uma adversária em potencial do governo petista, a ex-senadora Marina Silva. Tal qual o personagem Dick Vigarista — o vilão do desenho animado de Hanna-Barbera —, caciques governistas tentam atrapalhar, ainda na largada, a candidatura da Rede Sustentabilidade. Na vida real, entretanto, são bem menos incautos do que os retratados nos episódios da Corrida maluca, produzidos no final da década de 1970. Dessa vez, não há espaço para a inocência.

Na prática, a proposta, caso aprovada, poderia ser chamada de Lei contra Marina Silva. É ela, ou melhor, será ela, a maior prejudicada pelo texto. Explica-se. Hoje, deputados que decidirem migrar para uma legenda criada depois de uma determinada eleição levam parte da fatia do fundo partidário e do horário político eleitoral. Pelas regras do projeto, partidos criados ou fundidos depois da sanção da lei ficarão com o mesmo tempo de tevê e o mesmo percentual do fundo partidário que são distribuídos às legendas sem representação na Câmara. E, assim, os parlamentares que mudarem para as novas agremiações não levam nem tempo de televisão nem recursos partidários. A ideia parece perfeita.

Oportunismo
A cretinice está no fato de ser uma proposta oportunista, especificamente para abater Marina antes mesmo do voo. Há menos de dois anos — em setembro de 2011 —, foi criado o PSD, o partido de Gilberto Kassab, um político de movimentos tortos, mas que, na época do surgimento da legenda, contou com o apoio do governo federal. E ficou com tempo e dinheiro do fundo partidário. Com a tramitação urgente do projeto no Congresso, os parlamentares ligados ao Planalto poderão aprovar uma lei que, em menos de quatro anos, o tempo de uma legislatura, beneficia um partido e prejudica outro. Tudo poderia ser legítimo, se valesse a partir de 2014. Com a urgência, não passa de manobra.

Há pouco mais de dois anos, Marina recebeu quase 20 milhões de votos, chegando a aparecer em primeiro lugar depois da abertura das urnas no Distrito Federal, por exemplo. Antes da campanha de 2010, o poder da ex-senadora passou despercebido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que apenas se deu conta do potencial da adversária ao longo da eleição, prorrogada para o segundo turno entre a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra. Além disso, transformou Marina em símbolo por conta da capacidade de atrair os mais jovens e os eleitores cansados da disputa entre PT e PSDB. Depois da eleição, caciques governistas chegaram a lamentar o fato de não utilizarem a máquina pública, oferecendo cargos federais a então caciques do PV, para inviabilizar a Marina. Se não fizeram um movimento tão grotesco na época, agora tentam, tal qual o Vigarista, afastá-la de 2014.

A discurseira ambiental e errática de Marina — nas questões do aborto e do casamento gay — deve fazer falta aos eleitores da ex-ministra. Eles deverão saber quem culpar se a proposta contra ela vingar.

Outra coisa
Se os nossos políticos estavam achando pouco antecipar a campanha presidencial, agora resolveram abrir de uma vez a disputa pelo governo de São Paulo. Com a desistência de Aloizio Mercadante, o favoritismo na escolha dos petistas a partir de agora é do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Na queda de braço entre Lula e Dilma, o ex-presidente mais uma vez impôs a própria vontade.

Em 138 caracteres
Sim, e o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, aquele do carro oficial e da academia de ginástica? Tá institucionalizado?

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