sexta-feira, abril 12, 2013

BC deve minimizar riscos de inflação - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 12/04

A inflação alta - 6,59% em 12 meses - está minando a confiança dos empresários e dos consumidores e criando um ambiente ruim, avaliam importantes economistas do governo. Para o Banco Central, a hora é de "minimizar riscos" inflacionários. A situação, porém, é muito desconfortável.

O BC sabe o que fazer quando a inflação é alta e o crescimento econômico acelerado - aumenta a taxa Selic para esfriar a demanda. Também é ciente do seu trabalho quando a inflação é baixa e a atividade morna - afrouxa a política monetária para estimular\u0026nbsp;a demanda.

O pior dos mundos para a autoridade monetária é quando, como agora, a inflação está elevada e a economia fraca. Isso justificaria o uso da palavra "cautela" nos pronunciamentos do presidente da instituição, Alexandre Tombini. "Todo BC, em uma economia com inflação sob pressão e a atividade lá em baixo, tem que pensar duas vezes antes de agir", ponderou uma fonte oficial.

O Banco Central do México, por exemplo, ignorou o fato de a inflação estar sob pressão e, depois de três anos usando só a comunicação, cortou os juros pouco antes do índice de preços vazar o teto da meta, contando com a fragilidade da economia americana. O teto é 4% e a inflação chegou a 4,25%. O que no início pareceu uma barbeiragem acabou sendo uma decisão cabível porque os dados posteriores, que indicavam recuperação nos EUA, se mostraram falsamente positivos.

O presidente do BC da Rússia, Sergei Ignatiev, considerado superortodoxo, está preocupado com a desaceleração da economia e ameaça cortar os juros apesar da inflação de 7%. A cena internacional é delicada e o gigantesco afrouxamento monetário do governo do Japão - que pretende dobrar a base monetária em dois anos - ainda está sendo digerido pela área econômica do governo brasileiro.

Os dados do varejo, divulgados ontem pelo IBGE, reforçam a falta de vigor da atividade econômica. As vendas (excluindo veículos e material de construção), caíram 0,2% em fevereiro frente a igual período do ano passado e 0,4% em relação a janeiro. A expectativa era de crescimento de 1,6%. O crédito está "chocho", à exceção dos bancos públicos, e o endividamento das famílias estacionou num patamar alto, gerando perda de fôlego para a expansão do consumo.

É nesse cenário que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará sua próxima reunião, na semana que vem, para decidir sobre os rumos da taxa Selic.

Conforme as estimativas oficiais a economia pode ter crescido, no primeiro trimestre, algo em torno de 1% e a taxa de investimento teria se expandido pelo segundo trimestre consecutivo. Esses, se confirmados, seriam dados bons que só serão conhecidos em maio. A expectativa do governo é de que o investimento, este ano, supere a variação do Produto Interno Bruto (PIB). Mas ainda são tênues as garantias de que, se houve uma melhora de janeiro a março, ela prosseguirá no segundo trimestre.

Por outro lado há a inflação. Resistente, espalhada e minando a confiança que já não está grande coisa. O IPCA de março, de 0,47%, foi dentro do que o governo imaginava. O índice de difusão e os núcleos também caíram, mas não o suficiente.

Olhando adiante, a inflação pode ceder com o recuo dos preços dos alimentos e a dissipação dos efeitos do aumento do salário mínimo. Numa visão do ano, o IPCA de abril pode ser bem melhor do que os 0,64% de abril do ano passado e o de maio até cair em relação aos 0,36% de 2012. Mas não será inferior aos 0,08% de junho, dando um novo repique no fim do semestre. Para o segundo semestre o BC espera que saiam os dados ruins do ano passado e entrem variações de preços mais moderadas.

Num golpe de sorte mais os efeitos estatísticos, a inflação cairia de 6,7% no meio do ano para 5,7% ou um pouco mais. A autoridade monetária, porém, não deve contar com a força da gravidade para fazer o seu trabalho, de controlar a inflação. Ainda mais tendo consciência de que não dispõe de qualquer ajuda da política fiscal e que o governo, vira e mexe, recorre a medidas protecionistas para encarecer as importações.

Com políticas fiscal e monetária expansionistas, hoje o que ainda segura um pouco os aumentos de preços é o pobre desempenho do PIB.

Tombini disse e repetiu nos últimos dias que não está assistindo à tudo isso inerte. Ele mudou a política monetária quando mudou a comunicação do BC ao mercado. De janeiro para cá, ao endurecer o verbo, conseguiu um aumento de 0,8 ponto percentual na taxa de juros futuros e quase perdeu todo o trabalho com as declarações da presidente Dilma Rousseff na África do Sul, de que não acredita em política de combate à inflação que derrube o crescimento.

É muito difícil segurar os juros e os preços só com palavras. Sem o passo seguinte - aumento da Selic - é provável que o mercado devolva aquela elevação. A comunicação do BC não é apenas uma preparação para o próximo passo. Ela é parte da política monetária. Mas haveria uma única hipótese de ela ser suficiente: a inflação despencar e a economia prosseguir no chão.

"É preciso dar um pé nas costas da inflação", disse uma alta fonte, demonstrando senso de urgência. O que ainda leva o BC a ponderar sobre essa decisão não é uma suposta pressão contrária da presidente. É o PIB. O Banco Central não tem meta de crescimento, mas o nível da atividade tem repercussões efetivas sobre o comportamento dos preços. 

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