FOLHA DE SP - 29/03
BRASÍLIA - O deputado e pastor Feliciano não é mole. Além da cara de pau de assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, ele resiste a todas as pressões e ponderações para sair de onde nunca deveria ter entrado e, agora, parte para o ataque.
Autor de frases racistas e homofóbicas, alvo de processos no Supremo Tribunal Federal (um deles por estelionato) e flagrado dando uma bronca numa ovelha do seu rebanho que lhe passou o cartão de crédito, mas não a senha, Feliciano se coloca como vítima e joga a polícia parlamentar em cima de manifestantes.
Um foi detido por chamá-lo de "racista" e o outro (até devidamente, cá entre nós), por tentar invadir o seu gabinete. Pior: enquanto chama a polícia, Feliciano aciona os militantes do outro lado: os irmãos de fé.
Aliás, a convocação é do seu partido, o PSC. Ao comunicar, desassombradamente, que o pastor seria mantido na presidência da comissão, o vice-presidente nacional do partido, o também pastor Everaldo Pereira, disse que o camarada é "ficha limpa" e ameaçou: "Não fazemos ameaças, mas, se for preciso convocar centenas de militantes que pensam como nós, também vamos convocar". Que medo!
O risco é o Congresso virar um palco de guerra entre manifestantes anti-Feliciano e pró-Feliciano, com tudo o que isso significa em termos de direitos humanos, de minorias, de avanços, de atraso. Se ficasse só nas ideias, ótimo. Continuando no grito, já é preocupante. E se partirem para a ignorância, para as vias de fato?
No meio da desordem, pergunta-se: cadê o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, que é o parlamentar mais experiente e tem a política no sangue? Ele não só disse que a situação era "insustentável" como se comprometeu a resolvê-la rapidamente. Daí? Daí, nada.
Políticos resolvem as coisas parlamentando, negociando, ajustando contrários. Mas é a velha história: "Em casa de ferreiro, espeto de pau".
Coitada da pessoa que, determinada em impor a sua ideia, perde a sua credibilidade. É lamentável, mas não consigo mais acreditar em sua isenção. A gritaria não te incomodava, enquanto partia apenas do grupo que se opõe ao deputado, mas passou a preocupá-la quando confrontada pelos que o apoiam. Agora você começa a se incomodar com a possibilidade de agressões, antes achava bonito gente subindo na mesa aos gritos impedindo o funcionamento da comissão.
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