O GLOBO - 18/03
"Estou ficando apavorado!"
Eduardo Campos, governador de PE, sobre o número de adesões à sua candidatura à vaga de Dilma
Era uma vez a presidente da República que contava com seis anos de parceria para oferecer a seus aliados. Foi quando, com medo de perder a vez para seu antecessor, decidiu antecipar a próxima campanha eleitoral. Um aliado mais esperto aproveitou a ocasião e trocou o status de aliado dela pelo de concorrente. Sabe o que aconteceu? O poder de barganha da presidente diminuiu. E aumentou o dos aliados.
Decodificando: a presidente da República: Dilma Rousseff. O antecessor que poderia atropelá-la: Lula. O aliado esperto que virou concorrente: Eduardo Campos, governador de Pernambuco. A maior parte do PT gostaria de ter Lula de volta à Presidência. O próprio Lula gostaria de voltar. Para evitar o risco de ele se animar com a ideia, Dilma procurou-o para uma conversa definitiva.
"O senhor é candidato?" Lula negou. Ela insistiu. Ele negou. Dilma disse que o apoiaria com entusiasmo. Lula negou de novo. Dilma então pediu-lhe para que aproveitasse a festa de aniversário do PT e a lançasse à reeleição. Lula lançou - sem muito entusiasmo. E se por um motivo qualquer fosse obrigado a sair candidato no lugar de Dilma? A hipótese existe.
Sob o lema "2013 é para governar, deixemos para fazer campanha em 2014", Eduardo Campos viaja de uma ponta à outra do país fazendo campanha, e agora governa quando lhe sobra tempo. É candidato para ganhar ou perder. Contra Dilma ou Lula. "Não gosto de perder. Mas serei candidato até mesmo para marcar posição se esse for o desejo do meu partido", ouvi dele há poucos dias.
Ao bancar Dilma à sua sucessão, Lula sacou uma frase que passou a repetir como se fosse um mantra: "Ela é melhor gestora do que eu". Presidente bom gestor é uma mistura de presidente bom executivo e de presidente bom político. Lula cercou-se de executivos razoáveis. Na política deu um show. Dilma é uma executiva à moda antiga que pouco ouve. E uma política sem gosto pela política.
Em 2011, travestiu-se de faxineira ética e demitiu ministros autores de malfeitos. Ninguém perguntou por que os nomeara. No início do ano seguinte, arquivou a fantasia de faxineira quando um dos seus ministros foi acusado de ter recebido por consultorias que não deu. Obrigada pela Comissão de Ética da Presidência a despachar o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, desmontou a Comissão.
No último sábado, Lupi desfilou feliz pelos amplos salões do Palácio do Planalto. Fora trocado por um neto de Brizola. Com medo de perder o PDT para Eduardo Campos, Dilma substituiu Brizola Neto por um serviçal aliado de Lupi. Outro partido que perdeu ministro no rastro da faxina ética deverá ganhar um ministério em breve. Lula loteou seu governo no segundo mandato. Dilma loteia para assegurar o segundo mandato.
O primeiro ano do governo Dilma foi pior do que o último ano do governo Lula. O segundo ano do governo dela foi pior do que o primeiro. O terceiro, em curso, a ver. A inflação alta disseminou-se. A Petrobras nunca perdeu tanto valor (quem foi mesmo a presidente do Conselho de Administração da empresa no governo Lula? Adivinha.) O Brasil estagnou no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano.
São 39 ministros, e nenhum se destaca por ter emplacado algum projeto notável. Mas como brilhar em um governo cuja presidente trata assessores aos gritos, centraliza o que deve e o que não, e pede para ler com antecedência discursos que só mais tarde ouvirá? Que boa gestora, hein, seu Lula?
Soube através de um amigo que não faz muito tempo a Dilma jogou um cinzeiro na cara de um assessor, mas não o acertou por sorte. Imaginem trabalhar com uma pessoa assim.
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