FOLHA DE SP - 17/03
Em 10 anos de PT, existe uma minoria que não foi contemplada com nenhum cargo importante: a gay
Vamos falar a verdade: o governo de Fernando Henrique fez muito pela queda dos preconceitos e a valorização das minorias em geral. Mas devemos reconhecer que o PT fez muito mais: deu voz forte às mulheres e aos afrodescendentes, voz que eles talvez nunca tenham tido antes.
Desde que d. Dilma assumiu o cargo, sempre que houve uma brecha ela colocou uma mulher, e nem sei quantas existem em cargos importantes (nem se estão dando conta do que fazem), mas sei que são muitas. Talvez até mais do que seria preciso, para que o universo se convença da igualdade entre homens e mulheres.
Mas em 10 anos de PT, existe uma minoria que não foi contemplada com nenhum cargo importante: a minoria gay, que nem é tão minoria assim.
Na parada gay de São Paulo eles conseguem lotar a av. Paulista com centenas de milhares de pessoas entre gays e simpatizantes da causa.
Eles existem -e eu conheço muitos; são médicos, advogados, arquitetos, engenheiros, enfim, estão em todos os setores, para não falar na vida artística. Mas nos ministérios, na presidência, nas diretorias das grandes Estatais, nunca se ouviu falar de nenhum; porque será?
A ministra da Cultura sempre prestigiou a parada Gay, mas nem agora, com o poder na mão, convidou algum -ou alguma- representante da classe para colaborar com ela.
Pode ser até que exista um ou uma homossexual, em algum cargo modesto, mas que ainda não saiu do armário. Aliás, não sejamos ingênuos: é claro que em postos altíssimos da República devem existir muitos gays, só que ainda enrustidos, e não é desses que estamos falando. Mas daqueles sobre os quais não existe a menor dúvida, e que se assumem como tal.
Se os prefeito de Nova York, Paris e Berlim -e excelentes prefeitos, tanto que foram reeleitos são gays, porque o Brasil não pode ter um ministro assumido? E por falar na ministra, acho que ela só existe para fazer a ponte entre os héteros e os gays, para que não pensem que o PT não gosta dos gays.
Voltando: o PT está no poder há 10 anos e não me recordo de ter ouvido falar de ninguém do partido que seja assumidamente gay, então vamos combinar: para acreditar que o PT quer mesmo acabar com os preconceitos e é mesmo contra a intolerância e a favor da aceitação da pluralidade e das diversidades -todas-, é preciso que algum figurão petista, gay, seja candidato ou assuma um posto importante no governo.
Seria bacana, ver o ex-presidente Lula num palanque, pedindo votos para um candidato gay assumido. Vamos lá, Lula? A reforma ministerial está por pouco e a campanha já começou, dois bons momentos que não podem ser desperdiçados, a não ser que o PT seja preconceituoso em relação aos homossexuais.
Será que ele é?
P.S.: Todos estamos cansados de saber que as mulheres são capazes de tudo, e está aí d. Dilma provando que são mesmo; mas vamos admitir que mesmo as pessoas mais liberais têm, lá no fundo, um ranço preconceituoso, e às vezes ele se revela, inconscientemente. Aconteceu, no Dia Internacional da Mulher.
Foi exatamente este o dia que d. Dilma escolheu para desovar mais uma de suas bondades: a desoneração da cesta básica. Cesta básica é coisa de cozinha, e quem fala em cozinha pensa em mulher; ato mais do que falho da presidente.
Desculpe-me Danuza mas acho ridículo que alguém seja escolhido para um cargo em função de suas preferências sexuais, por seu genêro ou cor da pele. Se formos nesta linha, a lista será enorme. Concordo que é ridículo escolherem o dia da mulher para o preço da cesta. É um tipo de 'homenagem-humilhante'.
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