terça-feira, março 05, 2013

O PIB, o governo e as mentiras - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 05/03

Agora que o PIB cresceu apenas 0,9% em 2012, esse mesmo governo que achava ser o responsável por todos os êxitos do Brasil resolve alardear em alto e bom som que o problema é a economia internacional


Em recente evento realizado pelo PT, para comemorar os 10 anos do partido na Presidência da República, Lula reclamou dizendo que a imprensa bate nele como batia no presidente norte-americano Abraham Lincoln: com dureza e críticas, sem dar o devido reconhecimento a seus feitos e êxitos. No mesmo evento, a presidente Dilma, por sua vez, resolveu desdizer a si mesma, ao afirmar que seu partido nada recebeu dos antecessores e tudo o que o Brasil tem de bom foi construído pelo PT desde 2003, quando ela própria havia reconhecido, no início de seu mandato, a boa herança macroeconômica recebida de Fernando Henrique Cardoso.

Todos os governantes, sem exceção, sempre disseram e sempre dirão que a imprensa é ingrata, dura e injusta em relação a eles. Mas, no caso de Lula e de Dilma, o problema é que eles fabricam as próprias mentiras. Ou Dilma estava mentindo quando elogiou Fernando Henrique por ter implantado o Plano Real, debelado a inflação, saneado o sistema financeiro e implantado a Lei de Responsabilidade Fiscal; ou está mentindo agora ao afirmar que o PT nada herdou de bom e tudo construiu por sua genialidade.

Há outras mentiras claras. Quando Lula teve êxito ao manter o Brasil em boa situação econômica e formou reservas internacionais elevadas, ele, seu governo e seu partido alardeavam que o sucesso era obra da competência do governo. Lula não gostava quando analistas diziam que ele teve uma sorte enorme ao governar em um período no qual a economia mundial andou bem, os preços das commodities exportadas subiram de 2002 a 2010 sem parar, os preços das importações brasileiras caíram e o cenário mundial foi favorável como há muito tempo não era. Lula somente teve as primeiras turbulências já no fim de seu governo, com a crise financeira mundial.

O governo Lula teve seus méritos, e isso é reconhecido. Mas atribuir todos os êxitos a seu governo é desconhecer o papel jogado pelo cenário mundial altamente favorável. Agora que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,9% em 2012, esse mesmo governo que achava ser o responsável por todos os êxitos do Brasil resolve alardear em alto e bom som que o problema é a economia internacional. Esse crescimento é pífio e empobrece o Brasil, pois a população cresceu mais que 1%.

Ou o governo estava mentindo quando atribuía a si os louros da vitória porque a economia ia bem – não aceitando que parte do sucesso se devia à boa conjuntura externa –, ou está mentindo agora, tentando convencer a população de que o péssimo desempenho de 2012 é culpa da economia internacional. Ou uma coisa ou outra. Talvez algum guru do PT, dado a ser estrategista, saiba que política é isso mesmo: a arte de elogiar a si próprio, mesmo quando não mereça, e culpar os outros, mesmo quando o governo está errado.

A se acreditar que a função da propaganda partidária e governamental é agir dessa forma, então que aceitem as críticas e o rigor com que a imprensa trata suas diatribes verbais e suas mentiras eleitorais. E isso vale para todos os partidos no poder, de direita ou de esquerda, se é que essas definições ainda fazem algum sentido. Não aceitar as críticas e a dureza da imprensa e da opinião pública é coisa de ditadores, que a todos querem submeter, ceifando-lhes a palavra (quando não a vida) sempre que criticam os poderosos de plantão. Já que o ex-presidente resolveu comparar-se a Lincoln, seria bom que ele lesse mais a biografia desse grande homem para descobrir que ele jamais tentou calar a imprensa e seus opositores.

A Lula e Dilma resta o lembrete: nem tudo o que o Brasil tem de bom começou em seu governo e nem tudo que o Brasil tem de ruim foi obra de seu governo. Da mesma forma, a boa conjuntura externa ajudou, sim, os êxitos do governo do PT, e essa mesma conjuntura externa contribuiu para o mau desempenho da economia brasileira em 2012.

Nenhuma crise é eterna. Os Estados Unidos já estão dando sinais de recuperação. A Europa está cambaleando, mas em algum momento do futuro a crise será superada. Quando isso ocorrer, o Brasil irá se beneficiar e, se a China não descambar para o pior, a economia brasileira poderá ter anos muito bons. O governo, seja de que partido for, será influenciado pelos bons e pelos maus ventos da economia internacional.

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