FOLHA DE SP - 08/03
A restrição política vai fazer com que a superação dos limitadores ao crescimento tenha que aguardar 2015
A DIVULGAÇÃO dos detalhes do PIB do ano passado completa o ciclo de estatísticas econômicas da primeira metade do mandato da presidente Dilma. O analista pode agora traçar um diagnóstico da economia brasileira em seu período de governo e, mais importante ainda, avaliar os cenários mais prováveis para o próximo ano, quando ela tentará buscar sua reeleição.
Uma primeira informação que esses dois primeiros anos do mandato de Dilma Rousseff trazem ao analista é que a dinâmica de nossa economia mudou de forma estrutural desde sua eleição, em fins de 2010. Essa foi uma de minhas observações repetidas neste espaço ao longo do ano passado, quando esse quadro ficou mais visível.
Em um primeiro momento, dizia eu que forças expansionistas que agiram sobre a economia a partir de 2005 estavam perdendo dinamismo e deixariam de empurrar a atividade nos anos seguintes.
Entre elas, apontava a expansão do crédito ao consumo e uma oferta imensa de trabalho, pois vínhamos de um período da taxa de desemprego de dois dígitos.
Citava também o crescimento dos termos de troca de nosso comércio exterior, em razão da valorização nos mercados internacionais de produtos primários, que o Brasil produz de forma eficiente e dominante.
Impulsionada pelo aumento dos preços internacionais desses produtos, nossa balança comercial apresentava saldos substantivos, provocando um movimento de valorização do real.
Como resultado do real forte, a inflação chegou a níveis inferiores ao do teto inferior da meta do BC, provocando, com isso, um aumento significativo do valor real dos salários dos brasileiros.
A acomodação dos preços denominados em dólares -principalmente alimentos- e o aumento das importações de produtos de consumo permitiram que o choque de demanda fosse absorvido pelo sistema produtivo sem que a inflação se acelerasse.
Com isso, o governo do PT evitou cair na tradicional armadilha representada pelo aumento dos salários e do consumo levando a um aumento da inflação e, posteriormente, à alta dos juros pelo Banco Central e a uma recessão mais à frente.
A presidente Dilma tomou posse sob o impacto de uma nova piora da crise internacional e de uma redução brusca da atividade econômica no Brasil, em razão também da ressaca que os estímulos, que caracterizaram o ano eleitoral de 2010, ocasionaram na economia.
Nessas circunstâncias, a reação da política econômica do governo foi caracterizar essa queda da atividade como uma questão de natureza cíclica, e não estrutural, como vários analistas defendiam.
Para esse grupo -no qual eu estava incluído-, o desequilíbrio entre demanda e oferta em mercados importantes como o de trabalho e o de infraestrutura econômica era o grande entrave ao crescimento que deveria ser combatido.
A continuidade da política de estímulos ao consumo em 2012, como peça central da ação do governo, acabou por agravar ainda mais esses desequilíbrios estruturais.
Não se tratava mais apenas da perda de dinamismo de forças que empurraram a economia anteriormente, mas da existência de gargalos de oferta que passaram a agir sobre a inflação e sobre a produtividade da economia e a limitar os investimentos privados.
Hoje, mesmo que o governo aceite de forma clara esse diagnóstico, a restrição política vai fazer com que a superação desses limitadores ao crescimento tenha que aguardar 2015 e um novo governo. É assim a vida em uma democracia de massas, como é o caso do Brasil.
Por isso acredito que vamos viver um período de pequenas correções na política econômica -como parece ser o caso de uma posição mais realista no caso das concessões de serviços públicos e na nova posição do BC- e que preserve o crescimento de 3% a 3,5% do PIB já contratado e que estabilize as expectativas de inflação em um nível abaixo dos 6% em 12 meses.
A solução de médio prazo de nossos problemas mais graves vai ficar para depois e mesmo assim na dependência de um diagnóstico realista do novo ocupante do Palácio do Planalto.
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