quarta-feira, março 27, 2013

Não está tão ruim - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 27/03

O Brasil tem várias deficiências na parte técnica, tática, mas possui também muitas qualidades


Na época em que Taffarel estava na Seleção, mestre José Trajano dizia, com ironia e senso crítico, que poderiam pôr um balde no lugar do goleiro, que, mesmo assim, a equipe não levaria gols, já que a bola raramente chegava à área brasileira.

Isso ocorria porque a defesa era ótima, o Brasil dominava a partida, e o adversário tinha medo de atacar, para não deixar a defesa desprotegida. Isso mudou. O Brasil não impõe mais seu jogo, e os outros times não têm mais medo.

O atual estilo brasileiro é de contra-ataque, de lampejos, de lances isolados, de estocadas individuais e de esporádicas boas trocas de passes, como no segundo gol contra a Itália e o contra a Rússia.

O típico jogador formado hoje no Brasil, do meio para frente, fora o centroavante, é o meia-atacante veloz, habilidoso, que corre com a bola e que tenta driblar até o gol. Os melhores, com essas características, estão na seleção. É essencial ter jogadores desse estilo, desde que não haja tantos no mesmo time, como Neymar, Kaká, Oscar, Lucas e Hulk.

Todos os jogadores velozes e habilidosos costumam precisar de grandes espaços para brilhar. Esse foi o principal motivo das más atuações de Neymar, Kaká e Oscar, contra a Rússia. Hulk entrou, pela esquerda, e, com Marcelo, criou algumas situações de gol. Hulk pode jogar bem dez partidas seguidas, mas, quando atua mal, como no jogo contra a Itália, é chamado de grosso.

Continua a ilusão de que ter um centroavante pesado, estático, artilheiro, como Fred, o melhor da posição, é essencial à seleção. O centroavante fixo facilita a marcação do ataque. Ele faz gol, e o ataque joga mal. Falta ao Brasil um atacante que faça gols, que se movimente e que facilite para os outros também marcarem, como Van Persie, Ibrahimovic, Suárez, Agüero e até Balotelli, que era reserva no Manchester City.

O Brasil trocou mais passes, contra a Rússia, porque o adversário recuou, após o gol. Os volantes jogaram livres. Mesmo assim, só deram passes curtos, para o lado. Contra defesas fechadas, é essencial que os tenham passe rápido, longo e para frente, para meias e atacantes receberem a bola em pequenos espaços, antes que cheguem os zagueiros. Não temos também esse volante.

Todas essas deficiências não significam que o Brasil não tenha excelentes jogadores, que está desatualizado na parte tática e que não tenha chances de ganhar a Copa.

O Brasil possui também muitas virtudes. Em casa e em jogos mata-mata, é um dos candidatos ao título. Felipão não é um inovador, um grande estrategista, mas é observador, intuitivo, capaz de criar fortes laços afetivos e de incendiar um time e uma torcida. Futebol é também emoção, mistério e acaso.


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