O GLOBO - 07/03
A Aliança do Pacífico, considerada uma traição por Chávez e vista com desconfiança pelo Brasil, vai bastante bem, cresce mais e com menos inflação. Já o Mercosul...
Como outros líderes latino-americanos que marcaram seus currículos com a redução da pobreza, também Chávez deve isso a dois fatores principais: a forte expansão do capitalismo global e, nesse processo, a presença da China.
Parece provocação — e é um pouco mesmo —, mas observem os números: quando Chávez chegou ao poder, em 1998, a Venezuela já era uma potência petrolífera, mas o barril saía por uns 20 dólares. Chegou a bater nos 40 dólares em 2001, caiu de novo, oscilou algum tempo na média de US$ 30, até que, a partir do fim de 2002, engatou uma marcha ascendente que o levou para cima dos 100 dólares.
O período 2003/08 é conhecido como “anos dourados”. Houve crescimento em todo mundo, o comércio global se expandiu a taxas recordes de 10% ao ano, milhões de pessoas deixaram a pobreza e entraram nas classes médias nos países emergentes. E a China, que vinha forte desde o fim dos anos 80, consolidou sua posição como segunda potência, ampliando sua fome por commodities, alimentos e petróleo.
Até 2003, a Venezuela recebia em média US$ 30 bilhões ao ano com a exportação de petróleo. Cinco anos depois, embolsou US$ 90 bilhões, mesmo tendo reduzido o volume exportado. Esse o dinheiro do chavismo.
Petróleo é petróleo, claro, mas todos os países que tinham minérios, commodities em geral e alimentos para exportar deram-se muito bem. Inclusive o Brasil, cujas exportações saltaram de US$ 58 bi, em 2002, para US$ 161 bi em 2008. Uma onda de prosperidade varreu a América Latina.
Todos sofreram com a crise global financeira de 2008/09, mas a Venezuela sofreu mais, por causa da inteira dependência do petróleo. O país perdeu algo como US$ 60 bi de receitas de exportação e penou dois anos de recessão. Os demais latino-americanos, com políticas econômicas mais prudentes e atividade diversificada, ou nem tiveram recessão ou saíram rapidinho.
Como a China conseguiu sustentar seus níveis fortes de crescimento, puxando os emergentes, e como houve o início da recuperação nos EUA e outros países do mundo rico, os preços do óleo e das commodities voltaram a subir. A receita de exportação da Venezuela aumentou exponencialmente, chegou a ultrapassar os 100 bilhões anuais.
Curiosamente, enquanto os latino-americanos desviavam seus fluxos de comércio dos EUA para a China, caso do Brasil, a Venezuela manteve o Grande Satã, o Império, como seu principal parceiro. Cerca de 40% das exportações venezuelanas — só óleo — vão para os americanos, 10% para a China, 5% para a Índia e 4% para Cuba. No lado inverso, 30% das importações venezuelanas chegam dos EUA, 15% da China e 10% do Brasil.
Todos os países latino-americanos tiveram riqueza adicional para atacar velhos problemas sociais. E conseguiram resultados nos últimos dez anos. Como registrou a Carta do Ibre de fevereiro, a pobreza foi reduzida em todos os países da região, assim como todos colocaram mais crianças na escola.
Para simplificar o argumento: o Chile, com sua política econômica pró-mercado, democracia, abertura externa, tarifas baixas de importação, acordos de livre comércio com os EUA e outras dezenas de países, pode ser considerado o oposto da Venezuela bolivariana. Pois o Chile reduziu o desemprego e o nível de pobreza — neste caso menos do que na Venezuela, mas simplesmente porque tinha menos pobres no início.
Todos os países da região se utilizaram de programas de transferência de renda (tipo Bolsa Família), alguns mais eficientes, outros apenas assistencialistas e populistas, como os da Venezuela. (Por exemplo: distribuir às comunidades de chavistas eletrônicos chineses trocados por petróleo.)
E para seguir na comparação dos opostos — o país neoliberal e o bolivariano — basta observar a situação atual de cada um e verificar como cada um aproveitou a bonança externa. O Chile em crescimento sustentado, inflação baixinha, infraestrutura eficiente, indicadores sociais avançando. A Venezuela com a maior inflação da região, desorganizada, serviços públicos em situação lastimável, violência nas ruas e sem crescimento quando se exclui o petróleo.
Tudo culpa dos EUA, dizia Chávez. O pessoal acreditava nele. Não vai acreditar no seu sucessor. Dias difíceis aguardam a Venezuela.
Por outro lado, o eixo “não bolivariano”, os países que estão formando a Aliança do Pacífico, considerada uma traição por Chávez e vista com desconfiança pelo Brasil, vai bastante bem. Chile, Colômbia, Peru e México crescem mais e com menos inflação. Já o Mercosul...
Mas o Sardenberg não sabe que o Chile foi governado de 2000 até 2010 pelo Partido Socialista? Será ignorância ou má fé do articulista político da Globo?
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