quinta-feira, março 07, 2013

A guerra das versões - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 07/03

O PT acredita ter encontrado a fórmula para tentar convencer o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a não se lançar candidato a presidente da República: passar ao país a ideia de que não há um projeto alternativo entre PT e o PSDB, e o que Eduardo classifica de “rinha entre os dois partidos dominantes”, na verdade, diz respeito a dois grandes blocos políticos que têm projetos de governo diferentes e, por isso, esses dois atores dominam a cena eleitoral hoje, sem chance de nuances alternativas entre eles.

A tese foi lançada há duas semanas, de viva-voz pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em entrevista ao Correio Braziliense. Agora, dissemina-se em reportagens e avaliações feitas pelo PT nos quatro cantos do Brasil. A essa afirmação, os petistas acrescentam que o espaço que havia entre um e outro programa já está ocupado por Marina Silva e sua Rede Sustentabilidade.

Feita essa premissa, petistas amigos do governador pernambucano, mas fiéis ao projeto de reeleição de Dilma Rousseff trabalham no sentido de convencer o PSB e Campos dessa tese, no sentido de manter a aliança com os socialistas para 2014.

A estratégia do convencimento do PSB, entretanto, é mais difícil do que os petistas pensavam. O governador tem sido assediado por empresários, políticos, e sindicalistas interessados em conhecer o que ele teria a oferecer como alternativa à atual inquilina do Planalto. Quem passa pelo Palácio das Princesas, sede do governo pernambucano, sai encantado. Que o diga o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical. Ele se empolgou a ponto de dizer que estará com Eduardo em 2014, antes mesmo de o governador se apresentar oficialmente à disputa ao Planalto.

Entre os partidos, o PPS do deputado Roberto Freire (SP) é direto: “Se Eduardo Campos for candidato, evidentemente, não será do governo (que tem Dilma). Pode até não ser de posição, mas é alternativa ao bloco dominante. A partir disso, estaremos abertos a analisar a sua candidatura. Precisamos construir um bloco democrático para derrotar um governo que não é nem democrático, nem respeita as instituições republicanas”, diz Freire, que considera o processo de 2014 deflagrado por Lula ao anunciar a candidatura de Dilma Rousseff. O DEM vai na mesma linha, conforme relatei aqui há alguns dias. E, diante disso, avalia Freire, é igual creme dental: depois de fora do tubo, não volta mais. Falaremos de eleição daqui até outubro de 2014.

O que Freire diz de público a respeito da construção de um bloco democrático para derrotar o atual governo, os petistas dizem ao PSB em conversas reservadas. O PT está convencido de que a oposição tradicional pretende usar os socialistas no sentido de enfraquecer a aliança petista e, assim, ejetar o partido de Dilma e de Lula do poder. Completam ainda dizendo que, na hora H, essas forças hoje empolgadas com Eduardo Campos vão retornar ao seio do PSDB.

O raciocínio dos petistas é o de que entre entregar o governo federal ao PSB ou a Aécio Neves, do PSDB, os tucanos de São Paulo, por exemplo, na última hora vão preferir ficar com Aécio do que seguir a um projeto alternativo onde eles não terão voz ativa. Dentro do PSDB, por mais que haja uma briga interna, a discussão é caseira e algo em casa, geralmente é mais fácil de resolver e perdoar do que os entreveros com estranhos.

Enquanto isso, no PSB…

A versão de como o PT vê aqueles que se aproximam de Campos, ou os movimentos do governador, é parte de um enredo que tem outras leituras por outros personagens. O PSB, da sua parte, vê seu presidente, Eduardo, como uma opção, alguém com um projeto de redistribuição de recursos entre os estados e municípios, além das mesmas preocupações sociais que marcaram o projeto de Lula e seus aliados (no qual Eduardo está incluído). A diferença, dizem os socialistas, é a de que Eduardo tem ainda muito mais compreensão e capacidade de diálogo com classe política do que a presidente Dilma, ou mesmo Lula que só dividiu o poder para valer com os partidos aliados quando precisou de maior lastro por conta do mensalão. Mal o susto passou, os cargos importantes, leia-se Comunicações e Saúde, voltaram para o PT. Ou seja, o PSB desconfia que a visão do PT sobre o momento atual não passa de uma forma de tentar manter o status quo. Resta saber qual versão está mais vinculada à realidade. Isso, só o tempo dirá.

E no PSDB…

O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, convidou o senador Aécio Neves e Eduardo Campos para assistir ao festival do Boi de Parintins no último fim de semana de junho. “Vou convidar também a presidente Dilma Rousseff. Serei o único a ter 100% de 2014”, brinca ele para, em seguida, completar: “Estou sendo tão bem tratado pelo governo que acho que eles estão querendo me cooptar.”

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