domingo, fevereiro 10, 2013

Saudades do PT - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 10/02


SÃO PAULO - O PT faz falta na oposição. Colocando de outra forma, o país se ressente da ausência de uma oposição como a que o PT executava, isto é, atenta, sistemática e incisiva, ainda que às vezes injusta.

Numa semana em que a inflação deu mostras de descontrole, as ações da Petrobras derreteram -por culpa quase que exclusiva do governo- e o Planalto se viu obrigado a rever sua política de concessões, o que de mais relevante a oposição achou para criticar foi a presença do embaixador venezuelano num ato pró-Dirceu.

Oposições podem fazer bravatas e soar ranhetas, mas são um ingrediente crucial da democracia. Talvez possamos avançar mais e dizer que, sem algum tipo de contraditório, a própria razão fica ameaçada.

Uma boa explicação para alguns dos muitos vieses cognitivos característicos da mente humana é interpretar a evolução da racionalidade não como um mecanismo para descobrir a verdade, mas, sim, como uma ferramenta para triunfar em debates. Essa pelo menos é a tese dos franceses Hugo Mercier e Dan Sperber.

Se sua hipótese é correta, a tarefa de erigir um corpo de conhecimentos racionais e de aplicá-los de forma sábia deixa de ser um exercício individual ou partidário para tornar-se um esforço coletivo mais amplo. De fato, se pensarmos sem que nossas ideias sejam questionadas, são grandes as chances de nos afundarmos em nossas próprias ilusões. Mas, se usarmos a razão no contexto de discussões mais acerbas, cresce a possibilidade de nos sairmos bem como grupo.

Um trabalho de Jonathan Evans de 1989 mostrou que, quando submetidas a testes matemáticos nos quais é preciso chegar a uma resposta correta, pessoas atuando sozinhas se deram mal, acertando 10% das respostas. Quando tiveram de solucionar os mesmos problemas em grupo, o índice foi para 80%. É o chamado bônus de assembleia, que só se materializa quando existe uma oposição para acusar erros, reais ou imaginados.

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