domingo, fevereiro 03, 2013

Os partidos políticos e a omissão dos bons - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 03/01

Renegar a política tradicional é uma má estratégia. Com parte da sociedade abandonando a política partidária, abre-se espaço para que maus quadros ocupem lugar nas legendas. O ingresso de novos quadros partidários que estejam comprometidos com a moralidade pública é saudável e deveria ser estimulado


Uma pesquisa divulgada pelo instituto Ibope no fim de 2012 mostrou que, pela primeira vez desde 1988, o número de brasileiros que dizem ser apartidários superou o de cidadãos que declaram ter preferência por alguma legenda. Segundo o Ibope, 56% dos cidadãos brasileiros afirmaram não ter preferência por quaisquer dos partidos existentes, enquanto 44% disseram simpatizar com alguma das 30 siglas políticas atuantes no país hoje.

Há 25 anos o ambiente público era bem diferente. Levantamento feito à época indicava que somente 38% dos brasileiros afirmavam ser apartidários, enquanto 61% diziam preferir determinada legenda. Com o fim do regime militar e a redemocratização que se seguiu, toda uma geração era otimista em relação ao futuro da democracia no país. A maioria da população via nos partidos uma forma de exercer seus direitos de cidadão e de participar da vida política brasileira. Por meio das legendas, sentiam-se representados politicamente. Havia uma enorme expectativa em torno dos partidos, únicas entidades permitidas a lançar candidatos para cargos eletivos.

A mudança de mentalidade dos cidadãos brasileiros registrada pela pesquisa do Ibope no fim de 2012 é sintomática. Sugere que os partidos estão perdendo a sintonia que já tiveram com a população no passado. A sucessão de escândalos de corrupção nessas duas décadas, com raros casos de condenação e punição dos políticos envolvidos, pode ter estimulado cidadãos a evitarem a atuação partidária. Parte da sociedade passou a considerar que a política é uma atividade desenvolvida por pessoas corruptas, cujo objetivo é desviar recursos públicos.

Esse preconceito generalizado em relação à política tem afastado pessoas capacitadas e de boa índole da vida político-partidária. Muitos cidadãos de bem têm escolhido o caminho das organizações não governamentais para trabalhar politicamente. Como não consideram a política uma atividade nobre, em vez de exercer mandatos, preferem atuar em grupos de pressão. Embora essas iniciativas sejam importantes, ficam sem o poder que é exclusivo dos eleitos – o poder de decidir os rumos da sociedade.

A experiência ao longo do tempo tem mostrado que renegar a política tradicional é uma má estratégia. Com parte da sociedade abandonando a política partidária, abre-se espaço para que maus quadros ocupem lugar nas legendas e tornem suas candidaturas eleitoralmente viáveis. O resultado disso é conhecido – proliferam-se escândalos envolvendo agentes públicos eleitos, o que inclui figuras de alta proeminência na república, como o senador Renan Calheiros, eleito anteontem presidente do Senado.

O ingresso de novos quadros partidários que estejam comprometidos com a moralidade pública é saudável para a democracia brasileira e deveria ser estimulado. Quanto mais pessoas que partilhem dos ideais republicanos estiverem engajadas em melhorar a qualidade da política nacional, mais facilmente serão corrigidas as distorções de nosso regime de governo. Caso o distanciamento da sociedade em relação aos partidos aumente, dificilmente o país conseguirá avançar no combate à corrupção e no desenvolvimento de instituições democráticas e republicanas.

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