quinta-feira, fevereiro 07, 2013

O xadrez do PT - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 07/02

A semana política terminou ontem com as visitas do novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), aos presidentes dos demais Poderes da República — Dilma Rousseff, do Executivo; e Joaquim Barbosa, do Judiciário. Os petistas, entretanto, estão mais à frente no calendário. Com os olhos voltados às manobras para 2014, retomam a formação de jogo feita no momento em que o STF começou o julgamento da Ação Penal 470, vulgo mensalão, em agosto do ano passado. O objetivo é o mesmo que dissemos aqui naquela oportunidade: proteger a rainha, no caso, a presidente Dilma Rousseff.

A ordem no partido é investir todo o capital político na reeleição de Dilma. Apesar de alguns mais saudosistas do estilo de Lula ainda terem esperanças de trocar Dilma pelo ex-presidente, a reeleição está posta dentro do partido, sem volta. Até porque a falência de uma recandidatura de Dilma seria o partido admitir que Lula errou ao escolher a mãe do PAC como alternativa. Portanto, quer setores do PT gostem ou não, a prioridade agora é trabalhar para que a presidente possa apresentar um bom portfólio de realizações aos eleitores a partir do ano que vem.

Nesse rol estão hoje o combate à pobreza extrema e a redução das taxas de juros e da conta de energia. Obviamente, não entram aí o aumento no preço da gasolina e o efeito cascata que ele provoca. Mostrar isso será tarefa dos oposicionistas. E, se o governo sentir algum cheiro de sucesso nessa empreitada, aí sim, a cabeça de Guido Mantega, que já andou a prêmio em outras oportunidades, pode correr. Mas a transferência dele para uma candidatura ao governo de São Paulo, embora cogitada por alguns, soa estranho para uma grande maioria.

Tirar Mantega da Fazenda para fazer dele candidato a governador de São Paulo é uma jogada arriscada no sentido de deixar a rainha desprotegida. Afinal, se o objetivo do jogo é reeleger Dilma, não faria sentido o PT ser representado em São Paulo por um ministro que traz na bagagem previsões de crescimento econômico que não se confirmaram e taxas de inflação preocupantes. Até porque há outros mais “leves” para aparecer ao lado de Dilma, caso de Aloizio Mercadante.

Mercadante é apontado hoje em várias rodas como o melhor nome para representar o PT contra Geraldo Alckmin. O atual ministro da Educação, dizem alguns, ficou fora do segundo turno por muito pouco quando concorreu contra um ex-governador muito bem avaliado à época. Agora, Alckmin apresenta desgaste de material e vem embalado nos problemas internos do PSDB entre serristas e alckministas. Para completar o quadro, Dilma está bem em São Paulo. Portanto, somando os votos que ela poderia ajudar a abocanhar no estado com aqueles que Mercadante já tem, o partido sai de um patamar muito melhor contra o PSDB, sem deixar estampado no palanque estadual eventuais desventuras na área econômica, que estariam hoje coladas à imagem de Mantega.

Esse jogo, entretanto, só estará mais claro mais à frente, quando as previsões de Mantega começarem a ser confrontadas com a realidade de 2013. Por enquanto, tudo é carnaval. Para se ter uma ideia, mencionou-se a hipótese de o PT ceder a vaga de candidato ao governo de São Paulo para o vice-presidente Michel Temer, para abrir a vaga na chapa de Dilma ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Os peemedebistas não querem nem ouvir falar nessa história. Dizem estar selados a promessa e o acordo de que Dilma, candidata, repetirá a chapa de 2010. No quadro de hoje, o PMDB não abre mão da vice, nem com o oferecimento de candidaturas próprias a governos estaduais. Os peemedebistas não esquecem o que ocorreu com Hélio Costa em Minas Gerais, que saiu candidato com o PT nas vice, mas se viu meio sozinho ao longo da campanha, com o PT dedicado a eleger Fernando Pimentel senador. Para completar, os mineiros desistiram de lançar candidato a prefeito de Belo Horizonte no ano passado para seguir ao lado do PT e consideram que jamais foram “compensados” pelo gesto.

Enquanto isso, na Câmara…

Os funcionários do portal da Casa na internet e do Câmara Notícias tiveram uma “ordem despejo”. As salas que eles ocupavam, próximas à TV Câmara, servirá para abrigar o gabinete do ex-presidente Marco Maia (PT-RS). Até Aldo Rebelo, os ex-presidentes da Casa ficavam no anexo onde funcionam as comissões técnicas da Casa. Hoje, eles escolhem onde colocar o futuro gabinete. Arlindo Chinaglia, por exemplo, ficou num espaço perto da chapelaria, nas salas que também serviam à área administrativa e de comunicação da Câmara. No passado, homens como Ulysses Guimarães e Luís Eduardo Magalhães deixavam a presidência da Casa e voltavam aos gabinetes “dos mortais”, no anexo IV, conhecido como “Serra Pelada”. Outros tempos e outros políticos. Vejamos o que fará Henrique Eduardo Alves daqui a dois anos.

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