segunda-feira, fevereiro 18, 2013

O Wei Qi da política - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 18/02

Vem da cultura chinesa a estratégia de Renan Calheiros, Henrique Eduardo Alves e da própria presidente Dilma Rousseff para evitar que adversários se criem nos próximos meses a ponto de lhes impor derrotas. Para isso, vão trabalhar o terreno político a partir de hoje como quem se dedica a uma longa partida de Wei Qi. Trata-se de um jogo de tabuleiro chinês, em que o objetivo é cercar o adversário para capturar suas pedras e impedir que ele se movimente. É nesse sentido que o PT agirá nos próximos meses no sentido de evitar o crescimento dos potenciais adversários. O mesmo farão os peemedebistas para assegurar suas posições. Imperadores chineses e até seus governantes do século passado usaram muitas estratégias do jogo para assegurar a integridade do território e afastar visitantes indesejados.

Os primeiros movimentos virão do tabuleiro de Renan e Henrique. Os lances de cada um serão dados hoje, na largada da escolha das comissões técnicas e outros cargos. Uma das peças é João Alberto Souza (PMDB-MA), movido para o Conselho de Ética do Senado. Outra é Vital do Rêgo (PMDB-PB), futuro presidente da Comissão de Constituição e Justiça. No caso da Câmara, Henrique comandará hoje a distribuição das comissões técnicas seguindo a proporcionalidade, para não criar dissabores que possam lhe causar constrangimentos futuros em plenário.

Quanto à briga a respeito do procurador-geral, Roberto Gurgel — aquela em que o senador Fernando Collor solicita que ele seja investigado e o senador Pedro Taques (PDT-MT) defende Gurgel —, a intenção de Renan é jogar para tirar essa pedra do tabuleiro adversário, ou seja, não levar o assunto adiante agora. O presidente do Senado tem plena consciência de que a inclusão do nome de Gurgel como um “tema da Casa”, conforme definiu um senador aliado a Renan, pode terminar lhe causando ainda mais desgaste. Portanto, passada uma semana, a sensação geral é a de que essa história não terá desdobramentos.

Paralelamente às comissões, ambos jogarão com tudo para tentar votar logo o Orçamento e garantir que tudo funcione no parlamento sob o comando total do PMDB. Afinal, com o texto aprovado, passa-se à apreciação dos vetos, um tema do qual o Congresso não tem mais como escapar, quer o governo goste ou não. E será nessas votações que a presidente Dilma Rousseff mais terá dores de cabeça. A oposição trabalha dia e noite para colocar em pauta apenas os temas mais difíceis para o governo — leia-se a distribuição dos royalties do petróleo e a Emenda 29. E, assim, o baú no qual o governo espera retirar os recursos para as vistosas obras de infraestrutura vai ficando cada vez mais vazio.

Enquanto isso, no PT…

Da parte dos petistas, dois tabuleiros de Wei Qi estão em movimento. O congressual consiste em cercar todas as comissões que possam influenciar na economia. A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, por exemplo, já está praticamente reservada para o senador Lindbergh Farias, do PT do Rio de Janeiro, aliado de primeira hora da presidente Dilma. Na Câmara, além das comissões econômicas, a ordem do PT é tentar conquistar ainda a de Relações Exteriores, de forma a evitar que a oposição use esse colegiado como uma caixa de ressonância para propagandear os defeitos do governo pelo mundo afora. A área de relações exteriores é considerada de fundamental importância para que se possa atrair investimentos externos.

Paralelamente ao Congresso, os petistas abrem o tabuleiro da sucessão no início da noite de quarta-feira, quando reunirão Dilma e o ex-presidente Lula para comemorar os 10 anos de governo do partido. Nos meandros da base aliada, há uma insatisfação com o evento, porque muitos consideram que, na hora de falar das realizações, o governo é só do PT. No momento de chorar mazelas, a culpa é dividida com os demais aliados. É o partido de Lula lutando para ver se assim consegue “cercar” os parceiros, a fim de evitar que eles ganhem asas e adotem projetos alternativos. Nesse Wei Qi, os petistas não veem apenas o PSDB do senador Aécio Neves, de Minas Gerais, como adversário.

No lado oposto, eles enxergam ainda o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Como diz o deputado Devanir Ribeiro, do PT paulista, “Eduardo tem o direito de ser candidato. Mas deve saber que o mesmo risco que corre o pau, corre o machado”. Essa partida, como aquelas que reúnem os grandes mestres chineses e coreanos, certamente não acabará nem tão cedo.

Por falar em Eduardo…

O governador de Pernambuco não irá ao evento do PT em São Paulo, porque a missa de sétimo dia da morte do ex-ministro da Justiça Fernando Lyra será às 19h30 desta quarta-feira, no Colégio Salesiano do Recife. Amigo da família e companheiro de tantas lutas de Lyra, o governador não pode deixar de comparecer à missa. Na festa petista, Eduardo será representado pelo vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, e enviará uma mensagem parabenizando Lula e Dilma.

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