sexta-feira, fevereiro 15, 2013

O superacordo - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 15/02

A decisão dos Estados Unidos e da União Europeia de iniciar negociações para um Tratado Transatlântico de Livre Comércio, com início de vigência previsto para 2015, tem potencial para enorme impacto econômico global. Se o acordo sair, mais um pedaço de mercado externo escapará das empresas brasileiras.

As primeiras análises são de que poderá proporcionar crescimento econômico de cerca de 1,5% ao ano nos dois lados do Atlântico - o que não deixa de ser um investimento baixo para a retomada global.

A ideia é antiga e os resultados dependerão de árduas e complexas negociações que envolvem, de um lado, os Estados Unidos, e, de outro, 27 países. A tarifa aduaneira média no comércio entre Estados Unidos e União Europeia já é muito baixa: menos de 3%. Já indica que, nesse tratado, mais importante do que a derrubada de tarifas será a de regulações e de barreiras não tarifárias - como proibições para a entrada de produtos transgênicos e restrições à de carnes suínas pela Europa.

De todo modo, dado o tamanho dos mercados (veja tabela), um novo acordo tende a aumentar substancialmente a escala do comércio entre os dois lados. Se os Estados Unidos elevarem suas importações da Europa e a Europa aumentar suas importações dos Estados Unidos, está claro que sobrará menos dos maiores mercados do mundo para os demais, especialmente para as empresas brasileiras.

A iniciativa é a mais importante depois da criação da Organização Mundial do Comércio, em 1995. Como a Rodada Doha, que previa avanços multilaterais (no mundo todo) está paralisada, um novo acordo entre Estados Unidos e Europa tenderia a impulsionar nova onda de tratados bilaterais de comércio.

O governo brasileiro parou no tempo. Recusa-se a entabular negociações bilaterais de livre comércio. Enterrou o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), não consegue evoluir no projeto de liberação do comércio entre Mercosul e União Europeia e só anda para trás nas relações comerciais dentro do Mercosul, onde, em vez de diminuir, as travas só aumentam.

O governo brasileiro não é único responsável pela omissão. Os dirigentes do setor industrial, por exemplo, sempre se rebelaram contra a liberação do comércio entre o Brasil e qualquer bloco econômico, sob a alegação de que prejudicaria o setor produtivo nacional, dada a sua incapacidade de competir em igualdade de condições.

No entanto, em vez de lutar pela redução do custo Brasil, que asseguraria ganhos de competitividade, optam por medidas protecionistas que ampliam a reserva de mercado interno - mas que são incapazes de abrir mercado externo. Também vêm reivindicando políticas de desvalorização cambial (alta do dólar) que o governo não consegue manter, devido a seu impacto inflacionário.

As novas negociações bilaterais entre os dois maiores blocos econômicos do mundo devem mudar muita coisa. Outros acordos comerciais serão inevitáveis. Ou o governo brasileiro sacudirá sua inércia ou será mais uma vez ultrapassado pelos fatos.

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