domingo, fevereiro 10, 2013

O que será o amanhã? - MAURO LAVIOLA

O GLOBO - 10/02

A reunião de suposto congraçamento entre a Comunidade dos Estados Latino-america­nos e Caribenhos (Celac, ver­são latina da Organização dos Estados Americanos sem os EUA e o Canadá) e a União Européia, ocorrida em Santia­go do Chile no fim de janeiro, revelou o velho anacronismo existente em boa parte dos países da região dirigidos sob uma visão terceiromundista.

Inútil encontro porque restou apenas a constatação de que a "estratégica associação transatlântica" pretendida ja­mais se solidificará frente à existência da brecha político-ideológica que se­para países latino-americanos com visões planetárias da outra metade que ainda cultuam gestões político-econô­micas do passado.

O pior da história é que o Brasil parece situar-se no lado errado, ainda preso à "Doutrina Garcia" (esplendidamente destrinchada em magistral artigo do sociólogo Demétrio Magnoli). Como prin­cipal conselheiro presidencial para assuntos externos, suas opiniões conduzi­ram a política externa brasileira nos últi­mos dez anos a um estrondoso fracasso. Logrou destronar o Ministério das Rela­ções Exteriores de seu encargo constitu­cional ao induzir os dirigentes do país a seguir os ditames "lulopetistas" "chavistas" e "kirchneristas" de integração regio­nal e aversão aos países capitalistas. Não é por outra razão que o Brasil, suposta­mente o líder econômico continental, aceita e até apoia toda sorte de sub­versões comerciais prati­cadas pela Ar­gentina no último decênio. Outro feito im­portante da dita "doutrina" foi orientar o governo a par­ticipar do co­nhecido plano para ingressar a Venezuela no Mercosul pela janela.

Em matéria de relaciona­mento extrarregional, o bloco dispõe apenas de dois insípidos acordos vigentes com a índia e Israel e três outros com a União Aduaneira da África Austral (Sacu, na sigla em inglês), Egito e Palestina à espera de aprovações parlamentares.

Os (des)entendimentos com a União Européia estão próximos de completar vinte anos e, a julgar pela Argentina, ja­mais serão finalizados enquanto perdurar a atual postura Kirchner, en­quanto o Brasil, preso às amarras da Decisão do Conselho do Mercado Co­mum do Mercosul 32/00, não tem ou­tro papel a não ser ir dourando a pílula.

Enquanto isso, os países da Aliança Atlântica (Colômbia, Chile, Peru e Mé­xico) — contando com crescentes ob­servadores (Panamá, Costa Rica, Uru­guai e mais recentemente o Paraguai) — estão voando à velocidade do som para recuperar décadas perdidas de atrasos e demagogias.

E nós? Como estamos no período de carnaval, só nos resta cantar o conhecido samba-enredo da União da Ilha:

"O que será o amanhã?

Descubra quem puder

O que irá me acontecer?

O meu destino será o que Deus quiser..."


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