quinta-feira, fevereiro 14, 2013

O acordo transatlântico e o Brasil - DIEGO BONOMO

O ESTADO DE S. PAULO - 14/02

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou, em seu discurso à Nação, o lançamento de negociações entre os EUA e a União Europeia para a conclusão de um histórico acordo transatlântico de livre comércio - o Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP). O anúncio é, ao mesmo tempo, político e pragmático. Em matéria de volume de comércio, o TTIP será o maior acordo comercial da história.

De um lado, ao anunciar a iniciativa ambiciosa na área comercial, o presidente toma para si um tema tradicional do Partido Republicano. De outro lado, o anúncio é pragmático, pois Obama reconhece o papel das exportações (e da abertura de mercados) para a retomada do crescimento econômico e da criação de empregos nos EUA.

O TTIP, somado ao acordo transpacífico (TPP) em negociação, será peça-chave para a integração comercial dos dois polos mais dinâmicos do capitalismo global: o Atlântico Norte e o Pacífico, embora sem a China.

Há 20 anos, acreditava-se que o mundo pós- Guerra Fria seria dividido em três blocos comerciais: as Américas, lideradas pelos Estados Unidos; a Europa, o Mediterrâneo e a África, cujo dínamo seria a Alemanha; e o Sudeste Asiático, em torno do Japão.

A"tríade", hoje, pode ser transformada em um "cinturão comercial" (TTIP-TPP), que deixará de fora a África, a Ásia Central, o Oriente Médio, parte da América Latina e, sobretudo, os Brics. Concorrentes entre si, os Brics têm pouca chance de criar alternativa viável.

O TTIP poderá ter dois impactos imediatos para o Brasil - poderá desviar comércio, prejudicando as exportações brasileiras para os Estados Unidos e para a União Europeia, e tem potencial para alterar a dinâmica das negociações na Organização Mundial do Comércio.

Além disso, deverá ser complementado por acordos adicionais, tanto dos Estados Unidos, quanto de outros países, que, inclusive, já se organizam para lançar iniciativas plurilaterais sobre serviços e tecnologias da informação e comunicação sem a participação do Brasil.

Desde 2008, o País não tem estratégia clara de negociações comerciais e a política comercial brasileira permanece amarrada a três mitos: só proteção gera crescimento; a agricultura é ofensiva,mas a indústria não o é; e acordos com países desenvolvidos criam dependência, mas não crescimento e empregos. Como resultado, o Brasil perde terreno comercial até mesmo no Mercosul.

Diante desse cenário, não ter estratégia não é alternativa.O País precisa repensar sua política comercial ou acabará como no ditado: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!


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