O GLOBO - 09/02
Proibição de supermercados e redes de varejo publicarem encartes nos jornais é um novo golpe para inviabilizar veículos críticos do governo
Com um tiro do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno — o congelamento de preços até 1º de abril —, a Casa Rosada quer atingir três alvos: a inflação, as demandas sindicais por salários e, soube-se depois, mais uma vez a imprensa independente. Explica-se: junto com o congelamento veio a proibição de que os supermercados e redes de varejo de Buenos Aires publiquem na imprensa encartes com anúncios e promoções.
As duas questões, inflação e liberdade de imprensa, são tratadas de forma inadmissível pelo autoritário governo de Cristina Kirchner. A Argentina acaba de receber censura formal do FMI por maquiar o índice de preços, o que acontece desde a intervenção de Moreno no Idec (um IBGE), no início do atual governo. A inflação oficial está em 10,8% ao ano, enquanto a real supera os 25%.
O congelamento, sabidamente ineficaz, foi adotado para maquiar a inflação. De quebra, será usado para solapar as reivindicações dos sindicatos, que querem reposições da ordem de 30%, próximos da inflação verdadeira. Porém, a medida mais maquiavélica é a última — a proibição, impossível num país de fato democrático, de que sejam publicadas encartes com ofertas e promoções nos jornais ou anúncios deste tipo nos canais de TV, obstruindo uma das principais fontes de receita dos meios. É apenas a mais recente das ações do governo K para acabar com a imprensa livre na Argentina. Desde o início, isto vem sendo feito com a manipulação das verbas publicitárias: os veículos da rede oficial — que não para de crescer —, e os favoráveis à Casa Rosada, são agraciados com generosos recursos públicos, que deixaram de ir para os que insistem o papel crítico, próprio da imprensa responsável, profissional.
Em seu afã de controlar a informação, o kirchnerismo declarou de interesse público a produção de papel-jornal, ao fazer uma virtual expropriação do controle da empresa Papel Prensa, dos grupos Clarín e La Nación, e da qual o Estado era sócio minoritário. Também com mão pesada, estatizou as transmissões de futebol, transferidas de canais privados (Clarín) para a rede oficial, repleta de altas doses de promoção do governo e ataques aos adversários.
A principal ação do governo foi aprovar num Congresso sob controle a Lei de Meios, destinada a “regulamentar” a mídia. O objetivo é claro: esquartejar grandes grupos de comunicação, que dependem menos de verbas oficiais, em especial o grupo Clarín. Este teria de vender grande parte de seus canais de TV a cabo e concessões de rádios, que certamente acabariam em mãos de empresários favoráveis à Casa Rosada.
Algumas dessas ações autoritárias ainda esbarraram na Justiça, como a da Papel Prensa e a aplicação total da Lei de Meios, também sob exame judicial. O pior é que, à medida que a situação econômica e social do país fica mais difícil, mais agressiva se torna a Casa Rosada. O custo da luta do kirchnerismo para sobreviver está sendo a própria democracia.
Bem que ela poderia vir para o BRASIL peitar o PiG, já que aqui isso nunca vai acontecer "pena".
ResponderExcluir