segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Moeda única e viva - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 18/02
Os países da zona do euro estão acumulando saldos comerciais há vários meses. Claro que a Alemanha, tradicionalmente superavitária no comércio exterior, contribui muito para isso. Mas sem dúvida a existência do euro foi que facilitou primeiro o incremento no comércio regional, incluindo os países que estão na União Europeia e não adotaram a moeda única, além de nações vizinhas, como a Turquia, e depois as transações com o resto do mundo. A União Europeia eliminou as barreiras para o trânsito de mercadorias dentro de suas fronteiras (quem passa pelas estradas ligando uma nação a outra não vê mais aduanas abarrotadas de caminhões, esperando pela liberação da carga) em 1993, e a moeda única, desde 2002, proporcionou um ganho considerável para os exportadores europeus em relação àqueles que a toda hora precisam converter moedas (o que é o caso dos brasileiros).

Mesmo com toda a crise financeira dos últimos anos, a economia da União Europeia, apoiada no euro, está pronta para um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Será ótimo para os dois lados, embora as empresas europeias faturem relativamente mais no mercado americano do que as companhias dos Estados Unidos na Europa.

É pouco provável que agora a Grã-Bretanha resolva pular fora da União Europeia (o plebiscito será em 2015). Os britânicos não abriram mão de sua própria moeda e sempre tiveram fortes laços comerciais, financeiros e políticos com os Estados Unidos. Mas se saírem da União Europeia perderão esse privilégio e enfraquecerão a libra esterlina.

Às 7h da manhã no escuro

O horário de verão é ótimo, mas nesta época do ano, com os dias já encurtando, na direção do equinócio, em grande parte do Centro-Oeste ou na Bahia, às 7h da manhã estava escuro. Por isso, não daria mesmo para esticar o horário e economizar energia.

O Comendador Simplício

Como escrevi várias notas a propósito dos impasses em torno da hidrelétrica de Simplício, na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, ganhei de presente do meu amigo Sérgio Jacques de Moraes, renomado advogado na área de mineração, um livro em que a irmã dele (Elisa de Moraes Sobrino Porto) relata a trajetória da família, especialmente do bisavô, o Comendador Simplício José Ferreira da Fonseca. O Comendador começou a vida como tropeiro e depois se tornou grande fazendeiro de café no Vale do Paraíba. A sede da sua fazenda (Barra do Peixe), localizada em Além Paraíba, até hoje é uma das mais bem conservadas dessa fase áurea do café no Vale. Anos atrás foi comprada por Guilherme da Silveira, que era um dos herdeiros da antiga Fábrica Bangu. No alto do portão principal da sede ainda está lá o seu brasão, datado de 1859, com as iniciais SJFF, que o povo na época traduzia como "sempre juntando, fez fortuna", pois o Comendador tinha fama de pessoa muito comedida em seus gastos. Apesar dessa fama, Simplício foi quem doou áreas para vários prédios públicos de Além Paraíba. Construiu uma igreja, hoje em ruínas, e a estação de trem que leva seu nome, razão do nome da hidrelétrica. Ajudou seu primo Mariano Procópio a construir a rodovia União e Indústria, de Petrópolis a Juiz de Fora. Os dormentes da linha de trem no trecho até Além Paraíba também saíram de árvores cortadas em sua fazenda. Simplício foi um dos poucos fazendeiros de café da região que não faliu. Após a abolição, contratou os antigos escravos como empregados. Fez várias tentativas para receber o título de barão, porém só conseguiu ser agraciado com uma comenda, da qual tinha muito orgulho. Imediatamente incorporou o título de Comendador ao nome. Com grande número de descendentes, sua herança se diluiu com o passar do tempo.

Tanto a estação de trem como a igreja que construiu serão restauradas, como uma das compensações pela construção da hidrelétrica de Simplício.

Pouco impacto ambiental

Um esclarecimento, a pedido dos técnicos: a cota de 90 metros no Rio Madeira, a montante da hidrelétrica de Jirau, será no período da cheia. Na seca, a cota é de 82 metros, mantida assim se não houver acordo com a Bolívia. Tal acordo é que possibilitará também a construção de mais uma hidrelétrica gigante, a de Guajará-Mirim (ou Ribeirão), com 3.000 megawatts de potência instalada, na fronteira com o país vizinho. O impacto ambiental se resumiria ao período da seca, portanto, mas em compensação surgiria uma hidrovia capaz de reduzir consideravelmente os custos de transporte na região.

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