quarta-feira, fevereiro 20, 2013

Exuberância - CELSO MING

O ESTADO DE S. PAULO - 20/02

O desempenho do comércio varejista de dezembro foi decepcionante, na medida em que frustrou a expectativa otimista de um avanço superior a 2% em relação ao mês anterior. Os resultados apontaram para queda de 0,5%.

Mas quem olha para o que aconteceu durante 2012 não pode negar que, comparado com o de 2011, o avanço do consumo brasileiro alcançou padrões chineses: 8,4% em termos reais, ou seja, descontada a inflação.

São rio em leito de riacho quando esses volumes do comércio são comparados com os da atividade produtiva. O avanço definitivo do PIB brasileiro em 2012 será conhecido dia 1.º de março, mas já se sabe, de antemão, que será magro, em torno de 1%. O setor produtivo não está acompanhando a exuberância do consumo, acionado, em última análise, pela elevação das despesas públicas.

Esse descompasso tem duas consequências. E a primeira delas é que parte do consumo tem de ser suprida com aumento das importações. É o que fica especialmente nítido no setor de combustíveis, cuja demanda avançou em 2012 nada menos que 6,8%, enquanto as refinarias da Petrobrás acusaram queda de produção de 2,35%.

O segundo desdobramento é mais inflação, porque parte do ajuste está sendo feita com alta de preços. É o que explica a inflação de 5,8% em 2012 e o novo patamar anual, acima dos 6% neste começo de 2013.

O governo federal tenta não mostrar preocupação com essas distorções. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, parece conformado com essa esticada da inflação. Sempre que pode, tenta convencer o público de que os números ruins acabarão se revertendo espontaneamente. Lá pelas tantas, como ocorreu na semana passada, avisa que, caso seja necessário combater a inflação, o instrumento mais adequado para isso é a política monetária (política de juros), e não uma valorização cambial (baixa do dólar) que provocasse a queda dos preços dos importados.

Mesmo com as aparentes divergências, a posição do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não é tão diferente. Nesta terça-feira ele voltou a passar o recado de que não pretende aumentar os juros básicos (Selic), hoje em 7,25% ao ano, para combater a inflação. Mas deixou a porta aberta para isso. "Se for necessário, a política monetária será adequadamente ajustada", disse, em Brasília. Apesar das declarações em contrário, o câmbio tem, sim, uma função auxiliar no combate à inflação. É o que sugere a manutenção da baixa das cotações por mais algum tempo.

Mas as causas das distorções acima apontadas não estão sendo atacadas. A ausência de oferta não tem sido corrigida nem com redução dos custos de produção (especialmente na indústria) nem com investimentos. A expansão da infraestrutura persiste tímida demais e vai demorar a produzir efeito.

O aumento das despesas públicas, por sua vez, não está sendo corrigido com mais austeridade. O governo Dilma entende que o raquitismo do PIB tem de ser combatido com injeções de vitamina. No entanto, se nada de novo vier a acontecer, a economia neste ano está fadada a gerar crescimento fraco, com mais inflação.

Desapontamento.

O presidente da França, François Hollande, se elegeu em maio do último ano prometendo a retomada do crescimento econômico e do emprego. Mas não tem sido feliz. Em 2012, o avanço do PIB da França foi de apenas 0,1%. E, nesta terça, ele avisou que "é improvável o cumprimento da meta de um crescimento econômico de 0,8% em 2013". PIB baixo tende a acentuar o rombo fiscal por falta de arrecadação e aumento das despesas com seguro-desemprego.


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