CORREIO BRAZILIENSE - 22/02
Ainda vai rolar muita água sob a ponte eleitoral, mas o cenário está praticamente posto e com uma antecedência que só tem precedente no período em que Lula lançou Dilma Rousseff. Para se ter uma ideia da demora que os partidos levam para apresentar seus candidatos, basta voltar sete anos, quando o PT atravessou o mensalão e nem sabia se teria condições de lançar Lula no ano seguinte.
Da parte dos tucanos, Geraldo Alckmin só disse ser candidato em janeiro de 2006. O mesmo ocorreu com Serra em 2010, que esperou passar o período de chuvas em São Paulo para anunciar com todas as letras que seria candidato. Na última eleição presidencial, entretanto, o PT largou na frente, com Lula construindo a candidatura de Dilma desde 2009, quando a apresentou como a mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.
Desta vez, tudo está antecipado. O PT tem Dilma. O PSDB, Aécio Neves. O PSB vai de Eduardo Campos, que não disse oficialmente ser candidato, mas caminha para isso se não conseguir a vice de Dilma. Resta ainda a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, que tem prazos exíguos para fazer dela candidata. No mais, é ver o que fará o hoje tucano José Serra, ainda fechado em copas, desfilando pelos eventos do partido. Ou seja, mantidas as atuais condições atmosféricas, sem que nenhum imprevisto venha alterar a rota, é esse o menu eleitoral do ano que vem.
Da parte do governo, não tem muito mistério: é segurar a economia e mostrar serviço ao povo (olha a palavrinha aí, gente!) para, assim, transformar uma alta popularidade em votos. Da parte da oposição, entretanto, as dificuldades são infinitas. Não basta Aécio Neves se apresentar como candidato com o diagnóstico claro dos problemas governamentais. Ele precisa ir além de propostas e da unidade interna. Tem que encontrar algum meio de quebrar a grande aliança que gravita em torno do PT e hoje nada indica que terá muito sucesso nessa empreitada.
A candidatura de Eduardo Campos, embora ajude a oposição a levar a eleição ao segundo turno, não garante a vitória. Mantido um segundo turno entre Dilma e Aécio, uma vez que PT e PSDB têm hoje estrutura maior do que a dos socialistas, a tendência de Eduardo é apoiar Dilma. Assim, investe um pouco mais no desgaste de material petista e se prepara no sentido de, em 2018, se apresentar novamente candidato num patamar eleitoral melhor.
Dentro do PT, existe hoje até quem sonhe com uma chapa Eduardo-Haddad, com a perspectiva de incluir o prefeito de São Paulo como candidato a vice numa construção futura. Mas essa aposta ainda é tão “sonhática” quanto a economia totalmente verde. Afinal, dependerá das circunstâncias.
Ao levantar essa hipótese de apresentar a vice em 2018, o PT busca manter Eduardo na sua órbita. A realidade indica que o governador de Pernambuco não tem um discurso que lhe permita se afastar totalmente do governo petista e apoiar Aécio num segundo turno. A não ser que construa esse afastamento daqui para frente. No entanto, o máximo que o comandante do PSB se propôs foi marcar diferenças. A levar em conta o que disse o vice-presidente do partido, Roberto Amaral, porta-voz de Eduardo na festa do PT em São Paulo, nesse momento, o caminho do PSB num eventual segundo turno entre PT e PSDB será o governo Dilma. Isso fica muito claro no momento em Amaral afirma não servir de “viagra” da oposição. Portanto, conforme avaliação de muitos, não será aí que Aécio terá condições de organizar o seu jogo, embora o sonho do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) seja uma parceria entre Eduardo e Aécio.
Esse movimento de Eduardo — de se colocar como pré-candidato e, ao mesmo tempo, não se afastar do PT de Lula, tentando desfrutar de parte da popularidade do ex-presidente — coloca o PSB longe do palanque de Aécio, obrigando os tucanos a organizar a perspectiva de reforço para um potencial segundo turno junto à Rede de Marina. Em 2010, ela não ficou nem com Serra, nem com Dilma e terminou fora do PV.
Desta vez, se Marina não conseguir montar a sua Rede Sustentabilidade em tempo de participar das eleições, ela pode perfeitamente optar pelo PPS de Roberto Freire, que já lhe abriu as portas. Freire fez o mesmo a José Serra. Até o momento, são essas as duas grandes incógnitas de 2014, além, é claro, da economia, essa moça que constrói e destrói projetos eleitorais. Ao que indicam os discursos de Aécio, levantando os temas econômicos, e de Dilma, defendendo as medidas de seu governo, esse tema estará novamente em pauta junto ao “povo”. Vamos aguardar.
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