quarta-feira, fevereiro 06, 2013

A agonia da Petrobras - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 06/01

Resultado fraco da estatal em 2012 acende o sinal de alerta para a maneira como o governo vem administrando a empresa


Quando o governo Fernando Henrique Cardoso instituiu o Proer – programa de saneamento do sistema financeiro – e iniciou a privatização dos bancos estatais estaduais e alguns federais, o PT e a CUT fizeram uma dura campanha contrária. O próprio Lula dizia que estavam entregando o patrimônio público e diminuindo a capacidade do governo federal e dos governos estaduais de fazerem políticas públicas a favor da população. Os defensores da privatização diziam exatamente o contrário: que o mau uso dos bancos estatais e a destruição financeira de todos eles mostravam que era um perigo ter bancos nas mãos de políticos e governantes temporários, pois eles sugavam recursos do caixa da União e dos estados e eram usados mais para favorecimentos e desvios que para fazer o bem à população.

Os políticos e os governantes, em todos os tempos, nunca ousaram incluir em qualquer proposta de privatização o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobras. Essas instituições tornaram-se intocáveis, a ponto de, nas duas eleições de Lula, seus adversários terem vindo a público para assumir o compromisso explícito de não privatizar qualquer dessas três empresas. Uma exceção de peso foi Roberto Campos, economista, ministro, senador e deputado federal, que passou a vida afirmando que mais cedo ou mais tarde a sociedade iria se dar conta de que até mesmo essas empresas seriam mal usadas pelos governantes, e seria bom privatizá-las.

Até há poucos anos, poder-se-ia afirmar que os governantes não trataram mal o BB, Caixa e Petrobras, e que essas instituições justificariam sua existência como empresas estatais. Porém, nos últimos tempos, algo está indo muito mal na relação do governo com a Petrobras, a ponto de os investidores e os analistas internacionais começarem a temer pelo futuro dessa empresa. Além disso, vale lembrar que o governo induziu milhões de brasileiros a investir em ações da Petrobras, inclusive com o dinheiro do FGTS, sobretudo após o lançamento de novas ações em nome da descoberta das reservas de petróleo na camada do pré-sal.

Tudo parecia ir bem para a Petrobras até há uns quatro ou cinco anos. Ela era uma estrela da Bolsa, seus lucros eram bastante altos e os planos de investimentos eram ousados. Mas, ao nomear executivos amadores para dirigir a empresa, ampliar a interferência da Presidência da República nas decisões estratégicas e deixar os derivados de petróleo sem reajuste por quatro anos, o governo federal começou a matar a Petrobras. Os investimentos foram reduzidos, os indicadores financeiros pioraram, os lucros começaram a minguar, a produção não cresceu quanto se esperava, os investidores nacionais e estrangeiros começaram a desconfiar do futuro da companhia. Enfim, a Petrobras tornou-se uma empresa em decadência. O resultado de 2012, anunciado na segunda-feira – lucro 36% menor que o de 2011 –, reforça essa impressão.

A pior notícia possível era a de que a empresa pudesse estar com problemas de caixa. Pois, no fim de janeiro, a Petrobras começou a atrasar pagamentos a seus fornecedores. Foi a gota d’água para a confirmação de que o mercado começa a desacreditar no futuro da empresa, cujo reflexo é a queda vertiginosa dos preços de suas ações. Há quem diga que, se o governo federal seguir nessa política de interferência excessiva na gestão e no uso político dos preços dos combustíveis, a companhia pode entrar em uma séria agonia financeira.

Esse é um assunto de responsabilidade direta da presidente Dilma Rousseff; é de conhecimento público ser ela quem pessoalmente toma as decisões sobre a Petrobras e sua política de preços. O argumento do governo é de que faz isso para ajudar no combate à inflação. Tal prática equivale aos falidos planos de controle da inflação pelo congelamento dos preços, que nunca funcionaram pela simples razão de que as elevações dos preços representam efeitos de problemas na economia. Em vez de combater as causas, os planos de congelamento agem sobre os efeitos e, por isso, nunca funcionaram em lugar algum do mundo.

É lamentável que a presidente Dilma esteja jogando no lixo o prestígio conquistado pela Petrobras a duras penas. E pior: é lamentável que justamente um governo do PT, partido tão afeito à estatização, esteja dando razão àqueles que pregam a privatização até mesmo da Petrobras e do Banco do Brasil sob o argumento de que, nas mãos do governo, mais cedo ou mais tarde essas empresas serão dilapidadas e deficitárias.

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