sábado, janeiro 26, 2013

Vestida de campanha - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 26/01


A oposição tem toda a razão para chiar, afinal, o pronunciamento na TV tem cheiro de eleição. Mas há poucas coisas tão eficientes para um candidato governista como reduzir a conta de luz. Qualquer movimento da oposição, por mais legítimo, corre o risco de ser desprezado pelo eleitor

No início da semana, um assessor do Palácio do Planalto deu pequena e preciosa dica sobre o plano que seria colocado em prática 48 horas depois por Dilma Rousseff: “Temos de virar o jogo. Nas três últimas semanas, enfrentamos uma agenda negativa. E a única forma de mudar é pela comunicação”, disse ele, enquanto reclamava da maquiagem dos números federais sobre o cumprimento da meta de superavit, que, segundo o camarada, foi um erro e serviu de estopim para a saraivada de críticas à petista. Na noite de quarta-feira, o que era gestado interna e silenciosamente com a ajuda de marqueteiros apareceu sob a forma de pronunciamento em cadeia de rádio e televisão. O plano de redução da conta de luz foi anunciado com ataques diretos à oposição. Dilma se vestiu de campanha.

O discurso, antecipado pelos jornalistas Ivan Iunes e Helena Mader ainda na manhã de quarta-feira no site do Correio, foi um ato contra a oposição. Ou pelo menos partes do texto, lido para ser visto e ouvido na sala do eleitor. Em um dos pontos, a ofensiva é explícita: “Aqueles que são sempre do contra vão ficar para trás”. O relato, como se sabe, foi entremeado por palavras contra “pessimistas que falam em racionamento de energia”, os que “erraram previsões”. Aqui, temos mais do que o dedo de um marqueteiro. Temos João Santana — o homem responsável pela campanha do segundo mandato de Lula e do primeiro de Dilma — de corpo inteiro. Se, na semana passada, no Piauí, a presidente vestiu o gibão e o chapéu de cangaceiro, na televisão, preferiu a cor vermelha. A de campanha.

A oposição chia e deve chiar, afinal, tudo tem cheiro de campanha antecipada. Mas há poucas coisas tão eficientes para um candidato à reeleição como a ação de reduzir a conta de uma família. Qualquer movimento da oposição, por mais legítimo, corre o risco de ser desprezado pelo eleitor. Assim, o próprio DEM, mais escaldado do que nunca, preferiu um tom mais brando. O presidente do partido, José Agripino, lamentou o fato de o governo anunciar uma ação sem ter certeza de que conseguirá mantê-la no futuro. O PSDB foi mais enfático, pois. É fato: há um proselitismo de Dilma e um discurso que tenta dividir “os que são a favor da redução da conta” e “os que são contrários”. É reduzir o debate ao nada, mas uma campanha sempre esteve longe de discussões e próxima da pura marquetagem.

Coisa de Lula

Antes do anúncio da queda no preço da conta de luz, assessores palacianos estavam acuados com as críticas na condução da economia. A proporção dos ataques da oposição — e de analistas sérios, diga-se — aumentava a cada dia, algo quase incontrolável. Ao modelo de crescimento, aproveitou-se o risco distante de racionamento para estocar o governo federal. A questão era como se defender de tais coisas. Se o presidente fosse Lula, seria até mais fácil. Durante uma inauguração, o petista faria um discurso emocionando, criticando supostos especuladores insatisfeitos com o governo, e acusaria a oposição de querer atrapalhar a administração. Com Dilma, é impossível tal coisa, até por conta do próprio perfil, muito mais racional. Assim, nada melhor do que aproveitar o anúncio da conta de luz para atacar.

A partir de agora, a estratégia governista é aguentar o aguaceiro pelas ventas, um termo marinheiro para definir que o melhor a fazer quando não há nada a fazer é esperar a tempestade passar. A tempestade trata-se das críticas da oposição ao pronunciamento de Dilma. Ao conseguir manter o preço da luz até o fim do mandato, vai tentar faturar — agora, sim — no horário eleitoral. Enquanto isso, a presidente adapta-se aos figurinos de campanha. Se na sexta-feira da semana passada foi a roupa de vaqueira, na última quarta, ficou com uniforme vermelho de campanha. O tailleur, a partir de agora, deve ficar cada vez mais no guarda-roupa do Palácio da Alvorada.

Outra coisa
Hoje é dia do Suvaco da Asa, o bloco mais democrático de uma cidade sem carnaval. Pelo menos um sábado animado de prévia momesca a gente tem direito, né não? A festa, no Cruzeiro Velho, começa às 10h, com o Suvaquinho, para as crianças. Depois, é a vez dos suvaqueiros profissionais. A alegria é de graça. Torça para o Sol aparecer e brinque na paz, pois.


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