quarta-feira, janeiro 23, 2013

O risco de a previsão da OIT estar certa - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÔMICO - 23/01


Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta o risco de queda do nível de emprego no Brasil. Pelas estimativas, cerca de 500 mil trabalhadores deverão ser demitidos nos próximos meses, o que elevaria o número de desempregados para 7 milhões.

Pode ser que nada disso aconteça. Mas, se as previsões da OIT estiverem corretas, será o pior dos cenários.

Nos últimos anos, o crescimento pífio do PIB brasileiro se deveu única e exclusivamente aos níveis elevados de consumo - e a condição essencial para o consumo em níveis estatisticamente relevantes é a renda conferida pelos salários e, mais do que isso, a expectativa de manutenção do emprego pelos meses de duração do carnê.

O próprio ministro Guido Mantega argumenta (com razão) que, a despeito de muitos de seus aliados considerarem os programas de distribuição de renda o principal motor da inclusão social no país, o que garantiu o ingresso de milhões de brasileiros na chamada "nova classe média" foi a expansão da oferta de empregos.

Um retrocesso nesse indicador seria como cravar uma estaca no coração daquele que é o maior feito da administração petista. E o governo, é claro, fará de tudo para impedir que isso aconteça.

O problema é que, tudo indica, existe um descasamento entre a intenção do governo em manter os empregos e a prática que se reflete nas condições de operação da indústria (que foi, é e continuará sendo ainda por muito tempo o principal gerador de empregos de qualidade).

Ontem, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, no interior de São Paulo, recorreu ao irritante recurso de fechar a Via Dutra com uma manifestação que tenta proibir a montadora GM de demitir 1.500 trabalhadores de uma linha de montagem que está sendo desativada.

O sindicato afirma que, como a GM recebeu isenção fiscal nos últimos anos, deveria ser proibida de demitir. É lógico que esse tipo de argumento anacrônico só pode ser levado a sério por quem ainda vê a indústria como um inimigo disposto a esfolar o trabalhador até a última gota de sangue.

O problema é que os 1.500 postos que a GM precisa eliminar porque a linha de montagem perdeu competitividade são do tipo que farão falta ao Brasil - e, mais ainda, às famílias atingidas pelo corte.

O país precisa, sim, de empregos de qualidade. Mas eles só serão oferecidos em quantidade suficiente no dia em que o governo (não especificamente o da presidente Dilma Rousseff, mas qualquer governo que se instale em Brasília) entender que é impossível ter uma indústria competitiva com as condições fiscais e o clima de confronto que existe no Brasil.

Se nada for feito enquanto é tempo, não haverá Via Dutra em quantidade suficiente para ser fechada pelas manifestações de protesto que se verão daqui por diante.

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