Por uma infelicidade tremenda, fui ler os comentários de um site sobre o acontecido em Santa Maria e dei com uma criatura funesta que falou coisas impublicáveis. Um só. Um único demente entre tantos solidários, e pensei: precisa mais que um para lamentarmos a falta de compaixão? Porque essa foi a palavra que me invadiu desde as primeiras horas de um domingo ensolarado lá fora e nublado aqui dentro: compaixão.
Qualquer pessoa que tenha um filho ou uma filha não tem como não se colocar no lugar dos pais, dos avós, dos tios daquela garotada que saiu no sábado à noite para se divertir e que foi vítima do destino – poderíamos também chamar de descaso, insensatez, irresponsabilidade –, mas é cedo para diagnósticos precisos. Destino é uma palavra mais abrangente.
Tenho duas filhas que comumente saem à noite, dançam, se divertem em lugares fechados, e eu não faço vistorias prévias, não peço laudos, não investigo, simplesmente confio que elas estarão em segurança. Quem pode garantir? Alguém deveria, mas o destino não se responsabiliza. Nunca se responsabilizou.
Sei de dois irmãos e de um casal de namorados que tinham relações com amigos meus e que estão entre as vítimas. De íntimo, eu não conhecia ninguém. Isso me afasta da tragédia? Nada nos afasta dessa tragédia, a não ser que não tenhamos compaixão. Essa palavra não me sai da cabeça. Um mundo individualista como o nosso precisa abraçar esse conceito, esse sentimento: compaixão. Se colocar no lugar do outro. Dói, mas é necessário.
Quem não tem filhos sofre. Quem tem se arrebenta. Não é algo que se explique. Nenhum racionalismo conforta. É um soco que nos tira o ar e nos faz lembrar o que tanto buscamos esquecer: que somos todos vulneráveis diante da fragilidade da vida.
Como ser humano e como pai não sei sequer avaliar o que as pessoas que perderam seus filhos estão sentindo.
ResponderExcluirMas também tenho filho e de nenhuma forma comungo da opinião externada pela Ilma senhora. Pelo contrário, transmito e martelo na cabeça do meu filho que ninguém, nem mesmo eu, pode ser mais responsável por ele e pela segurança dele do que ele próprio.
A polícia chega sempre depois do fato acontecido; o bombeiro chega sempre depois do fato acontecido.
E não nos escondamos atrás da falácia de que devemos confiar que os órgãos públicos fizeram a sua parte.
Basta olhar aquela arapuca para ter a certeza de que aquilo foi aprovado sob corrupção, dinheiro.
Era uma granada enguiçada que ia explodir mais dia, menos dia.
Os refletores encostados na espuma causariam o que o sinalizador acionado pelo asno, animado a não se sabe o que, causou.
Mas qualquer dos frequentadores poderia ter visto na entrada que aquilo era uma arapuca. A partir daí eles também assumiram o risco.
O preço foi a tragédia.
Até o momento não se ouviu de nenhuma autoridade um "para tudo". A exemplo do que o governo americano acaba de fazer com o avião da Boeing.
E estou aceitando apostas como sábado que vem (à exceção do RS) todos os cabarés-inferninhos-arapucas do país estarão lotados do mesmo jeito.
E continuarão chorando as Marias e Clarices no solo do Brasil.