domingo, janeiro 27, 2013

Múltis confiam mais no Brasil - ALBERTO TAMER

O ESTADO DE S. PAULO - 27/01


E os investimentos diretos continuam vindo para o Brasil, mostrando que a confiança dos investidores estrangeiros no País, ao contrário da dos brasileiros, continua alta. Eles recuaram 2% no ano passado, sim, mas bem menos que os 18% de queda brusca dos investimentos mundiais. "O Brasil resistiu bem, o investimento continua robusto", afirma James Zhan, diretor da Unctad, que acompanha tradicionalmente esse tipo de fluxo de capitais. Mesmo em meio à crise, entraram no País no ano passado US$ 62,272 bilhões, o segundo valor mais alto da história. Em um ano, o Brasil superou Europa e Japão e ocupa hoje o quarto lugar no destino de investimentos globais atrás apenas de Estados Unidos, China e Hong Kong. Em 2011 estava em quinto lugar e em 2010, em sétimo lugar. Vem ganhando espaço e cresce em um mercado fortemente retraído.

Há US$ 6 trilhões. Os economistas da Unctad não estão pessimistas com a tendência de investimentos globais, neste ano, e muito menos no Brasil onde, só em janeiro, devem ter entrado US$ 4,5 bilhões. O governo mantém ainda algumas restrições ao ingresso de alguns tipos desses recursos impostas na fase mais aguda da crise da Europa, que levou os bancos centrais dos países ricos, Estados Unidos e zona do euro, a injetar cerca de US$ 7 trilhões, no que ficou conhecido pelo "tsunami de liquidez". O objetivo era socorrer suas economias, mas grande parte desses dólares acabou migrando para os países emergentes. Mas a questão persiste. Os investimentos externos aumentaram nos últimos anos, estão aumentando até agora, mas os internos, o das empresas privadas, não (sem contar do governo). Ao contrário, caíram 4%. O que falta agora é uma política comercial efetiva, bem definida, que procure atrair esses recursos (as multinacionais têm US$ 6 trilhões) para os setores que mais interessam desenvolver no Brasil. Hoje, pouco está indo para a indústria e valores crescentes estão indo para o setor de serviços financeiros, já bem atendidos.

Seria confiança mesmo? Isso significa mesmo que as empresas estrangeiras têm mais confiança no Brasil do que as nacionais. Ainda agora, levantamento da CNI mostra que a maioria delas não pretende aumentar investimentos este ano. Eles acreditam e nós não, é a questão? Essa questão foi apresentada ao chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Túlio Maciel, em recente entrevista coletiva. Sua resposta apresenta alguns esclarecimentos, nem todos convincentes, mas merecem atenção para entender a discrepância entre o que as empresas estrangeiros fazem e as nossas, não. As duas coisas não são diretamente comparáveis. Os investimentos, tecnicamente chamados de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), ampliam a capacidade produtiva da economia. Já os investimentos estrangeiros diretos podem ser tanto para ampliar a capacidade produtiva quanto para comprar ativos que já estão em operação, como empresas e fábricas. A FBCF depende fundamentalmente de dois fatores: custo dos investimentos e confiança na economia, diz ele. Com os juros nos menores níveis desde a estabilização do real, os investimentos já teriam de ter reagido. Analistas econômicos afirmam que há uma crise de confiança. Alguns citam o cenário externo, cheio de incertezas, como a crise na Europa e o impasse fiscal nos EUA. Outros apontam excesso de intervencionismo do governo Dilma e falta de previsibilidade da política macroeconômica.

Sem incertezas. Os investimentos diretos passam ao largo das incertezas. Com US$ 65,272 bilhões, o volume de ingressos é o segundo maior da história. Em números absolutos, perdem para os ingressos de 2011, de US$ 66,660 bilhões. Mas em termos relativos são maiores.já que o Produto Interno Bruto (PIB) em dólares encolheu 8,6% em virtude, sobretudo, da desvalorização cambial entre 20H e 2012. Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) em 2012 equivalem a 2,88% do PIB, maior que os 2,69% do PIB de 2011. Outro ângulo do fluxo de investimentos estrangeiros: eles caíram em dólares entre 2011 e 2012, mas cresceram em reais, unidade monetária que interessa para o cálculo da FBCF. Seja na compra de ativos ou ampliação da capacidade produtiva, os investimentos diretos não deixam de ser um sinal de confiança dos estrangeiros na economia. Há algumas razões para concluir que os estrangeiros estão mais otimistas. Mas é possível também que eles tenham sido atraídos por barganhas, já que os ativos brasileiros ficaram mais baratos em dólar depois da desvalorização.

Há muito dinheiro - são US$ 6 trilhões! - ainda para investir, fazer fusões ou aquisições no Brasil. Que venha um novo tsunami de dólares...

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