quarta-feira, janeiro 23, 2013

Infraero 3 _ A revanche - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 23/01


Eu sei que prometi não voltar ao assunto. Escrevi isso meio frustrado, mas promessa é promessa. Na verdade, a carta do presidente da Infraero em resposta a minha coluna de 15 dias atrás era tão grande que, se eu acrescentasse algum comentário sobre ela, teria que cortá-la mais ainda e tudo ficaria sem sentido. Preferi me calar. Mas os leitores me ignoraram. Foram em frente. Assim, se abri espaço para o presidente da Infraero, Antônio Gustavo Matos do Vale, relatar as maravilhas que ele vê no
Galeão, nada mais justo que ceda a coluna também para que os usuários do aeroporto façam suas queixas. Começo com o leitor Eduardo Teixeira:
“Levando em conta que todas as informações dadas pelo presidente da Infraero, Antonio Gustavo Matos do Vale, são verdadeiras, podemos tirar duas conclusões: mesmo depois de tantas melhorias, o Galeão continua um lixo, e, se isso tudo foi feito no período
2011/2012, o Galeão deveria ter sido interditado em 2010, pois era ainda pior. Socorro!”
No caso de Dusi Marcelo, temos uma experiência particular:
“Você já reparou na prepotência dessas pessoas quando estão em cargo de chefia? Olha, não conheço todos os aeroportos do mundo. Só conheço alguns. Aqui no Brasil, conheço muitos. A competição é difícil, viu? É difícil dizer qual é o pior. Um pequeno exemplo do que aconteceu comigo. Vim de Ilhéus num domingo de manhã. Combinei com meu irmão para me buscar. Como moro
no Flamengo, disse a ele que, assim que o avião pousasse, eu o avisaria. Bom, fiz isso. Sabe qual foi minha espera das malas no Galeão? Duas horas. Que tal? Duas inacreditáveis horas! Meu irmão chegou em 15 minutos. A espera das malas foi maior que o tempo de voo. Realmente deve estar muito boa a administração da Infraero.”
Com a palavra Ana Lucia Neves:
“Cheguei ontem dos Estados Unidos depois de uma estada de 35 dias em Orlando, Flórida. Partimos, eu e minha família, no dia 11 de dezembro, com voo previsto para as 22h40m. Portanto, chegamos ao aeroporto, como manda o figurino, com quatro horas de antecedência para não corrermos nenhum risco. Foram as piores horas passadas em espera da minha vida. O calor insuportável, bebedouros sem água, pessoas em pé por falta de lugares suficientes para sentar, banheiros danificados, escadas rolantes interditadas... Reafirmo: o problema do ar condicionado não é pontual, mas sim crônico nos dias de mais calor. O pior de tudo isso, meu amigo, é que, na faixa dos 60, pude conhecer esse aeroporto quando ainda era um espetáculo de limpeza e
organização.”
Esta é a opinião de Mario Victor de Faria Nogueira:
“Sou profissional liberal e, devido à minha atividade, viajo com uma freqüência, às vezes, acima do que gostaria. Para o interior do Brasil e o exterior. Não só capitais, mas também para cidades menores nos países estrangeiros.Tenho, portanto, horas e horas de espera e utilização em aeroportos dos cinco continentes. O Galeão, para minha tristeza e vergonha absolutas, carioca adotivo e empedernido que sou, pode não ser o pior aeroporto do mundo, já que, como disse o presidente da Infraero, não conheço todos. Mas, sem dúvida, é o pior aeroporto de todos os que eu conheço. E eu conheço muitos. Incluidos aí, os brasileiros.”
Heliana Calmon não gostou de o presidente da Infraero dizer que, na noite do apagão, nenhum voo atrasou mais de uma hora:
“Somente falando do meu voo, o 250 da American Airlines para Dallas e que deveria ter partido do Galeão às 11h45m do dia 26 de dezembro. Ele decolou à 01h30m da madrugada do dia 27. Bem mais de uma hora de atraso, portanto. E causou a mim e à maioria esmagadora dos passageiros a perda de inúmeras conexões que tínhamos em Dallas. Vamos combinar que pouca gente voa para Dallas e fica por lá. Famílias inteiras começando suas férias tiveram que ser realocadas em novos voos de conexão. E ter voos disponíveis para realocação de passageiros no final do ano é tarefa árdua. Vi famílias que teriam que pernoitar no aeroporto de Dallas do dia 27 para o dia 28 porque perderam suas conexões e não havia nenhuma conexão de reposição. Eu mesma tinha três horas de intervalo entre o voo chegando do Rio e o outro, porém perdi a minha conexão e somente voei para
Salt Lake City (meu destino final) com meu filho mas separada do meu marido no voo das 15h15m, pois não havia três lugares na nova conexão. Meu marido voou às 19h15m, apesar de ter chegado no aeroporto de Dallas pela manhã. E, segundo a agente da American Airlines de Dallas, ele teve muita sorte de achar este único lugar livre neste voo. Soubemos que Stevie Wonder estava no Galeão na noite do apagão e, pelo que também soubemos, o voo dele para Nova Iorque teve que ser cancelado e parece que ele foi reacomodado naquela madrugada num voo para Dallas.”
Vou ficar por aqui. Teria mais algumas dezenas de e-mails para reproduzir. Mas isso só reforçaria a ideia de que o presidente da Infraero é uma Alice, e o Galeão é seu país das maravilhas. E agora é pra valer: não se fala mais nisso.


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