sábado, janeiro 26, 2013

Dinâmica é para valer - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR - 26/01


Deus não votou nestas eleições israelenses; sabiamente deixou que a dinâmica democrática fizesse o que lhe competia. O exemplo vem do outro lado do mundo, mas suas lições são tão nítidas que não convém desperdiçá-las.

Todos os prognósticos apontavam para uma vitória expressiva do radical-direitista Bibi Netanyahu e uma grande abstenção nos grandes centros, geralmente à esquerda do eleitorado. O arrogante premiê estava tão convencido da sua invencibilidade que se demitiu e provocou uma antecipação das eleições, a fim de consolidar a supremacia da coligação de extrema-direita e ultrarreligiosos que o sustenta.

Bibi ganhou, mas foi uma vitória de Pirro, pífia: sob o ponto de vista moral e político, equivaleu a uma fragorosa derrota. O herói é um centrista, convictamente secular, o telejornalista Yahir Lapid. A esquerda também brilhou e, embora a questão da criação do Estado palestino não aparecesse nos palanques, os primeiros resultados levaram um dos líderes pacifistas a comentar, esperançoso: “não precisaremos cortar os pulsos como temíamos, a hora é de arregaçar as mangas”.

As negociações para uma nova coligação apenas começaram, mas os observadores concordam que a inesperada reviravolta eleitoral equivale a uma primavera, apesar do geladíssimo inverno israelense. O clima pessimista e apocalíptico foi exportado para outras paragens.

Os expoentes do governo brasileiro e da coligação partidária que o sustentam desperdiçaram o último ano embalados em sondagens, estatísticas e na infalibilidade do seu guia, o ex-presidente Lula da Silva. Não prestaram atenção à dialética do movimento. A vitória de Fernando Haddad em outubro reforçou a inércia daqueles que se acostumaram a triunfar esquecidos dos desafios do dia seguinte.

Vitórias contínuas fabricam fadiga e onipotência, são viciosas e enganadoras porque pressupõem uma inevitabilidade que em regimes democráticos jamais se confirma. O estrago causado pelo julgamento do mensalão pode não ter afetado o resultado das eleições municipais, mas a visível revolta contra a indicação dos novos presidentes da Câmara e do Senado (Henrique Alves e Renan Calheiros) poderá acionar uma indignação popular ainda intacta e ainda insatisfeita, sobretudo porque é dirigida contra um poder da República cada vez mais desacreditado.

A fama de gerentona da presidente Dilma não se sustentará apenas com o seu timbre de voz cortante (ou os rumores sobre as broncas que passa nos auxiliares). O fantasma dos apagões não vai evaporar apenas com as notícias – ainda confusas e contraditórias – sobre a baixa das tarifas elétricas. Mesmo porque o aumento no preço da gasolina já está sendo embutido em orçamentos e projeções para os próximos meses.

A presidente não foi prudente ao declarar que fora eleita para “um mandato de oito anos”, esqueceu os caprichos da dinâmica política. Ao contrário do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, atentíssimo às oportunidades que se oferecem a cada alteração da conjuntura.

Barack Obama esperou ser reeleito para se reinventar; a presidente Dilma precisará reinventar-se muito antes de se recandidatar.

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