segunda-feira, janeiro 21, 2013

Dilma tem muito a fazer antes do forró da reeleição - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO

Valor Econômico - 21/01


A viagem da presidente Dilma Rousseff ao Piauí, na última sexta-feira, confirmou ao país o que muitos desconfiavam e o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, adiantou na quarta-feira da semana passada: o governo já está empenhado - e nem faz questão de disfarçar - na campanha de reeleição da presidente da República.

Não só o governo, que cola a agenda da governante com a da candidata, como também o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um mestre na arte de criar e eleger candidatos, como comprovaram eleições recentes. Dilma só não contava com o "apagão" de 30 minutos que antecedeu sua chegada a Teresina. Não chegou a estragar a festa, mas serviu para advertir o governo do muito que precisa ser feito, efetivamente, antes de 2014.

Dilma chega a 2013, véspera do ano sucessório, sem ter uma grande obra a apresentar. E as obras da "herança bendita" que recebeu do governo Lula, na área de infraestrutura, ainda estão à espera do esforço governamental para serem concluídas. Obras que contribuíram para a reeleição do próprio Lula, em 2006, e a eleição de Dilma, em 2010, como a transposição do rio São Francisco.

Trata-se de uma obra-símbolo da falta de pejo de governantes petistas para transformar projetos de grande anseio popular em produtos de marketing eleitoral. O fim da seca do Nordeste está no imaginário de qualquer nordestino, como também de todos os brasileiros.

As evidências mostram que as férias devolveram uma Dilma Rousseff diferente no modo de governar. Mais solta, buscando a iniciativa em ações de grande visibilidade, como os encontros que manteve nas duas últimas semanas com os maiores empresários do país.

Obviamente, é impossível afirmar que o objetivo da presidente era o de produzir ações de marketing com vistas à campanha. Mas é difícil ignorar as cenas de Dilma com chapéu de vaqueiro e aplaudindo, sorridente, os sanfoneiros que animaram a entrega de retroescavadeiras e apartamentos em Teresina, ao som de Asa Branca e de outros hits da região. Parecia o forró da reeleição.

Num momento sensível do processo econômico em que a inflação mostra os dentes, ameaça de racionamento de energia elétrica e de dúvidas sobre a capacidade de o país assegurar os encargos que assumiu para sediar a Copa do Mundo de 2014, o que menos se espera de Dilma é a mistura da governança com o processo da sucessão presidencial do próximo ano.

São grandes os desafios que aguardam a presidente em 2013. Antes de pensar na reeleição, Dilma deve pensar em enfrentar e resolver esses desafios. Ou pelo menos deixá-los encaminhados, até porque uma coisa levará à outra.

É quase uma inevitabilidade. O mesmo não se pode dizer se as coisas acontecerem de modo contrário.

Há muito a ser efeito, projetos que de maneira alguma podem entrar na fila das "obras prioritárias" só em véspera de eleição, como parece ser o caso da transposição do rio São Francisco. Afinal de contas, os problemas do fornecimento de energia elétrica estão mesmo equacionados, sob o controle das autoridades responsáveis, ou continuarão a se repetir "apagões-relâmpagos" como o que recepcionou a presidente na viagem a Teresina?

Os aeroportos, tão necessários para receber eventos como a Copa do Mundo quanto para atender um país em crescimento, ficarão prontos no tempo necessário ou correm o risco de ficar na situação da refinaria Abreu Lima - outra promessa de Lula na campanha da reeleição -, projeto cujo orçamento já aumentou quase sete vezes? E as obras de mobilidade urbana, essas sim um autêntico legado da Copa?

Para Dilma se eleger presidente da República, as agendas da chefe da Casa Civil com a de Lula foram embaralhadas. Não justifica, mas a ideia era tornar conhecida uma candidata retirada do bolso do colete do então presidente e que nunca antes disputara uma eleição. A popularidade de Dilma agora ronda os 62%. O desconhecimento não é argumento para transformar atos de governo em campanha. É natural que o PT esteja no palanque. Mas o PIB de 2012 mostra que o momento atual é delicado e requer a atenção integral da presidente da República.


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