quinta-feira, janeiro 24, 2013

Dilma e a tevê - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 24/01

O Brasil não está muito acostumado a ver o comandante da nação na tevê contando as boas novas de seu governo. Bem, pelo menos não estava. Dilma parece ser, até agora, a mais à vontade no uso desse recurso, incluídos aí todos os presidentes desde a redemocratização do país. E ontem, ao que tudo indica, lançou o que alguns consideraram o slogan da campanha reeleitoral do ano que vem, dizendo que “aqueles que são sempre do contra vão ficar para trás”. Chegou vestida para matar. A dama de vermelho, a cor do PT. Toda sorridente. Voz macia, mas firme para afastar o risco do apagão e do racionamento. E, pode apostar, leitor, que outros pronunciamentos virão em resposta às ações do governo que os oposicionistas decidirem pegar firme.

Quem tiver tempo e disposição para consultar o site da biblioteca da Presidência da República verá que os dois últimos antecessores não eram tão assíduos quanto Dilma em pronunciamentos à nação. Luiz Inácio Lula da Silva usou pouco esse recurso. Até porque não precisava. Lula discursava quase todos os dias, não perdia uma chance de falar diretamente ao eleitor e mandar o seu recado. Portanto, foi econômico na requisição de cadeias nacionais de rádio e televisão. O site da biblioteca da Presidência contabiliza 13 pronunciamentos desse tipo nos dois mandatos.

Fernando Henrique Cardoso tem 20 discursos especificados dessa maneira, sendo a maioria no fatídico ano de 2001, marcado pelo ataque terrorista ao World Trade Center, em Nova York. No Brasil, foi a temporada de racionamento de energia. Os dois temas foram abordados nos pronunciamentos do então presidente da República. Naquele ano, Fernando Henrique falou aos brasileiros por intermédio dessa “paradinha” na programação normal das tevês e das rádios por sete vezes. No total, foram 20 pronunciamentos em seus oito anos de mandato, mais do que Lula. José Sarney também gostava do recurso. Em 1988, foi à tevê alertar que os brasileiros consideravam que a Constituição tornaria o país ingovernável.

Em 2013…

A presidente Dilma não fez nem alertas nem reclamações até agora. Está na linha do “só notícia boa” e vai para cima dos adversários. Mas, pelo ritmo, vai garantir o alto do pódio nesse quesito. Ontem, foi o seu 12º. São 12 os meses do ano, os apóstolos, os signos do zodíaco. Epa! Duvido que Dilma tenha levado isso em conta. Mas há quem faça uma ligação entre o 12º pronunciamento e a largada da campanha reeleitoral. Além do slogan, “quem é do contra fica para trás”.

O ensaio do que ela disse ontem já havia sido feito na abertura do Encontro Nacional da Indústria, em dezembro do ano passado. Ali, a presidente apresentou um balanço dos primeiros dois anos de governo, mencionou a queda de juros e foi incisiva na defesa da conta de luz mais barata para o brasileiro.

As palavras a presidente em dezembro tentaram passar a ideia de que quem estava contra a renovação das concessões dentro das regras propostas pelo governo era também contra a redução da tarifa da energia. Ontem, essa ideia foi repisada e ela ainda disse que as pessoas dos estados onde as empresas não quiseram renovar as concessões (leia-se São Paulo e Minas Gerais, redutos da oposição), ainda assim serão beneficiadas, porque o governo considera importante.

Não falou, entretanto, o que havia dito aos empresários no evento da indústria. Naquela ocasião, ela mencionou que manteria a redução da conta de luz, ainda que fosse necessário (e será) usar recursos do Tesouro Nacional para cobrir o percentual de redução — 18% para o residencial e 32% para a indústria, mais do que o prometido inicialmente (16% e 28%, respectivamente). “Quando perguntarem para onde vão os recursos do governo, orçamentários do governo, uma parte irá para suprir a indústria brasileira e a população brasileira, aquilo que outros não tiveram a sensibilidade de fazer. Nós somos a favor da redução dos custos de energia no país e faremos isso porque é importante para o país”, discursou em dezembro.

Ontem, Dilma prometeu tudo: investimentos, empregos, e mostrou que, até aqui, aqueles que apostaram contra seu governo “erraram”. Não repetiu o discurso preventivo feito nas entrelinhas de sua fala de dezembro. Lá atrás, deixou implícito que, se alguma obra sofresse atraso, os primeiros responsabilizados seriam aqueles que não acolheram a proposta do governo para reduzir as tarifas de energia. Nesse sentido, o pronunciamento de ontem pode ser visto como bem mais otimista, como resposta à oposição.

Ali, na largada de 2013 que ecoará em 2014, ela preferiu guardar eventuais responsabilidades por atrasos para uma outra oportunidade. Afinal, se admitisse hoje os possíveis atrasos, o efeito do futuro talvez fosse menor. Cada passo a seu tempo. Assim, ela vai, aos poucos, tomando conta da tevê, o recurso preferido dos políticos, e que o presidente da República pode solicitar quando quiser. Nem Lula, considerado o grande marqueteiro de si mesmo, fez melhor.


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