quinta-feira, janeiro 24, 2013

Crescer com menos inflação - ALBERTO TAMER


O ESTADO DE S. PAULO - 24/01

Um novo dilema ganha espaço na mídia no Brasil e no exterior - em circunstâncias especiais, em que as economias se arrastam em torno e até abaixo de 2%. Seria necessário um estímulo, mesmo temporária, na demanda monetário, fiscal e financeiro para reanimar o crescimento? O dilema é mais intenso no Brasil do que nas economias que o Fundo Monetário Internacional chama de avançadas.

Já aconteceu no passado. É um cenário difícil para o Brasil, com a inflação aumentando e o PIB recuando. Há em Brasília os que defendem ainda tolerância com a inflação porque existem sinais de possível reversão. Algo semelhante ocorreu no passado, quando a inflação chegou em setembro de 2011 a 7,31% e recuou em julho de 2012 para 4,92%. Os preços dos alimentos e serviços dão sinais de desaceleração. E a posição do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para quem existem condições para crescer nos dois trimestres sem criar novas pressões inflacionárias. Ele defende ações preventivas neste momento de maior pressão; ações que não devem se limitar às políticas monetária e cambial. Elas deram e continuam dando sua colaboração ao controle da inflação e ao estímulo ao crescimento. O BC acertou no passado em situações semelhantes. Em cinco anos, as metas de inflação foram cumpridas, não no sentido linear, mas com ajustes que respondem e atenuam a pressão dos fatores externos.

O que dizem os BCs. Nesse sentido, a reação dos bancos centrais dos Estados Unidos e da zona do euro oferecem um exemplo oportuno. Não hesitaram em derrubar os juros reais, injeção generosa de liquidez no sistema financeiro, defendida vigorosamente por Ben Bernanke e seguida por Mario Draghi. Não temem o risco de inflação mesmo emitindo sob várias formas mais de US$ 6 trilhões. As duas economias reagiram de forma diferente. A americana dá sinais de estar sustentável, porque foi seguida por incentivos fiscais, investimentos, gastos do governo, agora intensificados no segundo mandato de Obama. Na zona do euro, os juros menores - também negativos em termos reais - não foram complementados por investimentos, gastos, isenções, incentivos ao setor privado. Por isso, os EUA crescem a 2,6% e a zona do euro apenas 0,6%.

E aqui... Por enquanto há alguma hesitação. Há atraso em medidas que já deveriam não ter sido anunciadas - e tem havido muitos anúncios -, mas aplicadas, com efeitos visíveis. Isso provoca incerteza e insegurança do setor privado. A impressão dos analistas é que só agora o governo avaliou plenamente, o que aconteceu, a origem desse 1% de crescimento do ano passado que está aí. Desonerações aqui e ali até funcionam, ajudam, mas demoraram e são limitadas.

E veio a inflação. E no meio da incerteza veio a inflação de 6%. Ela está sendo enfrentada com mais rigor, sim, mas seus efeitos são danosos. Ela reduz o único campo de manobra que o governo dispõe e criou nos últimos anos sustentação do crescimento, o poder de compra dos consumidores. O índice atual não só corrói o poder de compra das famílias, mas pode criar um clima de insegurança semelhante ao que domina as empresas. Desta vez há mais transparência. O governo admite que a inflação é o novo desafio, que não pode ser enfrentado apenas com adiamentos isolados e temporárias.

Custo da energia. Não é o caso da energia, onde o governo acenou plenamente. Uma redução de 18% no peso da energia consumida pelas famílias vai contribuir seguramente para redução das pressões inflacionárias no orçamento das famílias. E elas têm enorme peso - representaram 75% da taxa de crescimento no governo Lula, número que sobe para nada menos que 87% no período recente. É muito e a coluna não hesitaria em dizer que é quase tudo. José Roberto Mendonça de Barros, lembra em artigo no Estado que em contrapartida desanimadora, os investimentos, que responderam por 37% do crescimento no primeiro período, caíram para 2% nos dois últimos anos. E na falta de investimentos do setor público e privado é vital manter o consumo. E se houver mais ação, como essa da energia, o consumo pode não só ser mantido, mas ainda colaborar para que a inflação recue nos próximos meses.

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