quinta-feira, janeiro 31, 2013

Conforme a música - DORA KRAMER


O ESTADO DE S. PAULO - 31/01
Enquanto pede à Procuradoria-Geral da República que investigue um ato da presidente da República que não requer investigação, pois o uso eleitoral de cadeia de rádio e televi­são na semana passada foi explícito, o PSDB vai deixando de lado o que seria no momento o serviço primor­dial de um partido que se pretende alternativa de poder.

Os tucanos buscam abrigo nas asas do Ministério Público a fim de dar a impressão de que fazem oposição. No mais, dançam conforme a música orquestrada pela situação.

No campo em que poderiam abrir espaço para exercer o contraditório e falar à opinião pública, o Congresso Nacional, comportam-se como governistas: aceitam formalmente constran­gidos a candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado e, na Câmara, submetem-se a um acerto feito entre PT e PMDB.

Acordo este que em tese não deveria lhes dizer respeito não falasse mais al­to o medo de ficar de fora da divisão de postos na Mesa Diretora. Em nome de assentos que na prática não lhe confe­rem poder algum de ação devido à es­magadora submissão da maioria aos ditames do Planalto, firmam compro­misso com o compadrio interno e acen­tuam a falta de comprometimento com a sociedade.

Três dias antes da eleição o PSDB esbo­çou reação por intermédio do senador Aé-cio Neves, que sugeriu ao PMDB a indica­ção de um nome mais apropriado, sem dizer com todos os efes e erres que gente em débito com a Justiça e com o decoro não pode comandar o Congresso.

A bancada no Senado se reúne hoje para decidir se parte para a abstenção ou se apoia o nome de Pedro Taques. Faz isso quando o quadro parece consolida­do, aos 42 do segundo tempo, depois que o procurador-geral da República ofe­receu denúncia contra Renan Calheiros ao Supremo Tribunal Federal e em meio a cobrança de apoio por parte do PMDB que alega ter "ajudado" os tucanos a sal­var o governador Marconi Perillo na mal­fadada CPI do Cachoeira.

Se o PSDB pretende ganhar a próxima eleição presidencial, perdeu uma exce­lente oportunidade de se diferenciar da geleia geral, marcando posição num pro­cesso de troca de comando para a Câma­ra e o Senado que sintetiza a degradação do Legislativo.

Teria aí um bom início de afirmação partidária, mas preferiu o conforto de seus aposentos no muro do qual ensaia descer na última hora e da forma que escolheu para fazer oposição: devagar, quase parando.

Guichê. Certeiro o título de reporta­gem do Estado publicada nesta terça-feira sobre uma das várias legendas em processo de formação: "Candidato a par­tido, PROS busca clientela".

O Partido Republicano da Ordem So­cial, como reza o nome, não quer dizer absolutamente nada. Recolhe assinatu­ras (ao preço de R$ 0,25 cada) para re­gistro na Justiça Eleitoral à cata ape­nas de clientes.

Para ter acesso às transações per­mitidas no sistema de coligações em eleições proporcionais e assim, quem sabe, chegar ao Congresso Na­cional, para ter acesso às verbas do fundo partidário e ao tempo à propa­ganda de rádio e televisão sempre à disposição de eventuais locatários, para se transformar em mais um balcão de negócios.

Depois das maneiras desabridas com que o PSD conseguiu vasta clientela de 50 deputados, quase cin­co centenas de prefeitos, e agora es­tá prestes a indicar para um ministé­rio no governo do PT o vice-governador na administração paulista do PSDB, tudo é permitido.

De onde a legenda aspirante não se acanhou. Aproveitou reunião de prefeitos em Brasília para panfletar sua plataforma: "Insatisfeito com seu partido? Quer sair sem perder o man­dato? O PROS é a mais nova opção".

Como isca na pescaria, não exige ficha limpa. "É só assinar a ficha".

Puro Stanislaw Ponte Preta, no pe­rigoso terreno da galhofa onde se encena o festival de besteiras que assola o País.

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