quinta-feira, janeiro 17, 2013

Combustível político - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 17/01


Interessante um encontro entre o vice-presidente da República, Michel Temer, e a presidente da Petrobras, Graça Foster. Mais impressionante ainda é o fato de Temer discutir gás e ingressar numa área que até aqui era estritamente discutida com a presidente Dilma Rousseff. Pelo menos, essa foi a versão oficial do encontro entre os dois, ontem, com ambos garantindo ao final que não há risco de desabastecimento de gás no país. O problema é que ninguém acreditou que tenha sido apenas esse o motivo do encontro.

Graça foi até Michel Temer por ordem da presidente Dilma Rousseff. Busca um canal político. Ela sabe que o ano não será fácil para a Petrobras no parlamento. Todos os dias há um pronunciamento com reclamações sobre o aparelhamento da empresa, a queda do valor das ações na Bolsa e falta de recursos para atender a todos os investimentos. Lá, onde a Petrobras é criticada não só pela oposição como também pela base governista, Michel é rei. Ele e o presidente do Senado, José Sarney, são tidos como os únicos que ainda conseguem ter uma certa ascendência não apenas sobre o PMDB, como também sobre outros partidos. Embora nem sempre tenham sucesso, são ouvidos pelos seus pares.

A Petrobras, este ano, precisará de todo o apoio político que puder agregar para não ficar a toda hora exposta a audiências no Congresso e sendo alvo de críticas que repercutem fora do Brasil. Vem aí aumento no preço dos combustíveis, em data ainda a ser definida, depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltar das férias. Tem ainda uma série de obras que a Petrobras simplesmente não conseguirá entregar em tempo eleitoral, e outras que adiou porque não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. As refinarias prometidas ainda no governo Lula para entrarem em funcionamento no fim do governo Dilma continuam se arrastando.

As refinarias e o aumento dos preços não são as únicas questões ligadas à Petrobras que rondam os sonhos e pesadelos dos políticos. Os cargos por ali interessam — e muito. O PMDB tem a Transpetro nas mãos do ex-senador Sérgio Machado que, volta e meia, entra em conflito com a poderosa Graça Foster. A Diretoria Internacional da empresa, que já foi do lote peemedebista sob o comando de Jorge Zelada, hoje é exercida pela própria Foster. Os peemedebisas estão inconformados com a demora em nomear suas indicações. A próxima reunião ordinária do Conselho Deliberativo da estatal, que promove a nomeação de diretores, será em 4 de fevereiro, data da eleição do futuro presidente da Câmara.

Diante de um portfólio político tão vasto, nenhum deputado acredita que Graça tenha se reunido com Temer apenas para fazer um balanço da produção de gás. A especulação, no fim do dia, era a de que teriam tratado de possíveis indicações do PMDB para a Diretoria Internacional. Afinal, todos sabem que o PMDB deseja manter uma participação na empresa, ainda que minoritária. Também é sabido que, se o partido quiser manter esse cargo, terá que ser sob as bênçãos da presidente da Petrobras. Por isso, ela e Temer foram afinar os ponteiros, o que não significa nomeações já.

Enquanto isso, na sala da Justiça…

A decisão do presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, de negar o pedido dos parlamentares do Espírito Santo, que queriam evitar a votação dos 3 mil vetos, tira de foco uma disputa entre os Poderes da República, mas não resolve o problema. Esse será o primeiro desafio do futuro presidente do Senado, a ser escolhido em 1º de fevereiro.

Por falar em Senado…

A semana política se abriu com o candidato a presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) dando explicações sobre seus assessores e emendas parlamentares, e se fecha com o candidato a comandante do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), que está na mesma situação de seu colega da Câmara. Para muitos, essas nuvens vão se dissipar na semana anterior ao carnaval, temporada da eleição.

Mas nada é tão simples assim. Até esta semana, Renan não teria adversários. Surgiram dois. Randolfe Rodrigues (PSol-AP) e Pedro Taques (PDT-MT), que vão se unir se o pedetista obtiver o apoio do PSDB — partido que, em abril de 1998, acolheu Renan de bom grado como ministro da Justiça. Renan ajudou recentemente o PSDB na CPI que investigou as relações perigosas de Carlos Cachoeira. Portanto, é bem possível que o PSDB apoie Taques de público, mas não lhe entregue todos os votos na eleição secreta. Mas essa é outra história.


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