segunda-feira, janeiro 14, 2013

Chuvas no radar econômico - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 14/01
Além dos índices e números habituais, é preciso acompanhar as chuvas para saber o que acontecerá com a economia

Os mercados giram em torno de expectativas, que, por sua vez, são alimentadas por previsões sobre o curto, médio e longo prazos. Tais expectativas são tão importantes no comportamento dos agentes econômicos que o Banco Central, por exemplo, divulga semanalmente um relatório que resume os prognósticos de muitas instituições financeiras em relação à trajetória da inflação, do câmbio, da taxa de juros e do Produto Interno Bruto (PIB). Os formuladores dessas previsões são consumidores de índices e informações macro e microeconômicas. Ficam de olho nos índices semanais de preços, no movimento das rodovias sob concessão (o pedágio permite essa contagem), nos fluxos do câmbio, na contabilidade das finanças públicas. E agora terão de prestar mais atenção também à meteorologia, pois se as chuvas não forem tão abundantes o custo da energia elétrica tende a subir principalmente para as indústrias, o que pode afetar tanto os preços dos produtos como o ritmo da produção.

Então São Pedro terá de mostrar este ano se tem alguma simpatia ou não pelo ministro Guido Mantega. A economia brasileira precisa crescer em 2013 pelo menos uns 3% para as contas públicas voltarem novamente aos eixos. E a indústria terá papel relevante nesse desempenho. Se as empresas continuarem pagando muito caro pela energia elétrica no chamado mercado livre, no qual costumam se suprir para respaldar aumentos de produção, muitas terão de mudar sua programação, podendo até pôr o pé no freio, o que frustraria o almejado crescimento inicialmente previsto para o ano.

Esse tipo de decisão não seria provocado por falta de demanda. Ainda que o consumo tenha dado sinais de arrefecimento, quando se considera também os investimentos a demanda doméstica parece ser suficiente para sustentar um aumento da produção capaz de impulsionar o PIB na faixa de 3%. Do mercado externo se espera uma ligeira melhora para os produtos que o Brasil exporta, sejam básicos ou manufaturados. Tudo que não pode acontecer em 2013 é um estresse em área tão essencial quanto o fornecimento de energia elétrica.

Nem São Pedro resolve

São Pedro realmente poderia ter colaborado mais em 2012 para encher os reservatórios, pois o Brasil tem um sistema elétrico interligado que se baseia em regimes de chuva que variam região para região. Se chove menos em uma região e mais em outra, dá para transferir dentro do sistema energia de um lugar para outro. Mas para que isso funcione bem são necessárias linhas de transmissão e reforços de geração próximos aos principais centros de consumo. No caso das linhas de transmissão, foram muitos os atrasos. Há usinas eólicas prontas e paradas no Nordeste porque as linhas não chegaram até elas no prazo programado. Mesmo que isoladamente só deem uma pequena contribuição para o sistema interligado, a soma desses atrasos passa a ter importância.

Mas nada é tão espantoso como o que aconteceu com a hidrelétrica de Simplício, um aproveitamento no Rio Paraíba do Sul, na divisa do Rio de Janeiro e Minas Gerais, com capacidade de gerar mais de 300 megawatts (MW), o que é expressivo, considerando-se a proximidade aos centros de consumo. A usina está tecnicamente pronta, mas surgiram tantos obstáculos no meio do caminho (exigências de autoridades locais, do Ministério Público, dos ambientalistas, e de um monte de gente que aproveita para tirar uma casquinha), que a hidrelétrica permanece sem uso. O projeto de Simplício previa um reservatório. Como inundaria áreas urbanas e terras cultiváveis, optou-se por um outro processo, com um canal adutor até a casa de força. A barragem onde parte do rio é desviado para o canal adutor fica no distrito de Anta, na qual foi instalada uma primeira casa de força, com capacidade de 30 MW. E é neste verão que a barragem precisa encher. Tantas foram as interferências que nem se sabe mais o custo final da obra. Furnas é que pagará a conta. O país clama por energia, mas na hora de se construir usinas faz-se tudo para impedi-las. Nesse caso, nem milagres de São Pedro poderão resolver o problema.

Se precisar, tem

O Brasil começou 2012 com um consumo de 59 milhões de toneladas anuais e chegou a dezembro na casa de 69,3 milhões. Ao longo do ano o ritmo de expansão do consumo foi diminuindo, fechando o quarto trimestre em 4,7%. Ainda é possível continuar crescendo, pois a indústria tem hoje capacidade para produzir 78 milhões de toneladas de cimento por ano. O problema é que o cimento não deve ser transportado por distâncias muito longas. Às vezes sobra produto em uma região e falta em outra.

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