quinta-feira, janeiro 31, 2013

Bolsa fora da rota - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 31/01

A bolsa brasileira está há dois anos andando de lado. Rompeu os 70 mil pontos em janeiro de 2011. Está em 59 mil. Seria normal, se fosse no mundo inteiro, mas, nos EUA, o índice S&P 500 ultrapassou, pela terceira vez em sua história, a marca de 1.500 pontos. O Dow Jones está perto do recorde. Na Europa, estão em recuperação as bolsas de Grécia, Portugal e Espanha. Na América Latina, o México se destaca.

O mau desempenho do Ibovepa tem a ver com a desaceleração da economia, mas isso não explica tudo. A queda do ritmo de crescimento do PIB, de 7,5% em 2010 para cerca de 1% em 2012, piora o ambiente para os negócios e a rentabilidade das empresas. Mas há, além disso, percepção de aumento do intervencionismo estatal e maior imprevisibilidade.

A Petrobras hoje tem menor valor de mercado do que a petrolífera estatal colombiana Ecopetrol, apesar de ser muito mais poderosa. Também vale menos que a Ambev. A empresa tem dificuldade na geração de caixa, a produção de petróleo não cresceu como o esperado, há aberrações em investimentos e elevação de custos, como na refinaria Abreu e Lima. Quem enche o tanque acha a nossa gasolina cara, mas o fato é que a Petrobras recebe das distribuidoras menos do que paga em cada litro. Os prejuízos com a importação são bilionários, e a ingerência política sobre a empresa coloca em xeque a sua gestão.

O reajuste de terça-feira atenua o problema, mas não resolve. As ações caíram 4,8% ontem. Nos últimos dois anos, as ações PN da empresa caíram 30%. Desde 2009, a redução encosta em 50%. O "Financial Times" classificou a queda como uma das mais dramáticas do setor de energia. Vários integrantes do governo falam sobre preço dos combustíveis, só a Petrobras parece não ter voz ativa no seu principal produto.

A troca de comando na Vale também foi mal recebida pela mercado. A saída do ex-presidente Roger Agnelli foi entendida como punição pela resistência a projetos de interesse do governo, como a entrada no mercado de siderurgia. Isso coincidiu com a desaceleração da China, que afetou o preço do minério de ferro, principal produto exportado pela Vale. As ações PN da empresa perderam 18,5% do valor em dois anos. A MP 579, que mudou as regras do setor elétrico, provocou uma fuga em massa de investidores. As ações ON da Eletrobras caíram 54% desde agosto. Segundo um analista de mercado financeiro, que preferiu não se identificar, principalmente investidores estrangeiros ficaram assustados.

- Energia mais barata aumenta a rentabilidade da indústria e renda dos consumidores. O problema é a forma como foi feito. O setor elétrico é de proteção em um portfólio. São contratos de 30 anos, com menor variação de receita. Fundos de pensão estrangeiros perderam muito dinheiro com as mudanças. Há receio de que outros setores sofram intervenção, como telecomunicações e saneamento. Quando houve a saída, foi da bolsa, e não troca para uma outra empresa - disse.

Normalmente, quando os juros caem, a bolsa sobe. Primeiro, pelo estímulo ao crescimento da economia. Segundo, porque os títulos públicos passam a render menos, e o investidor é obrigado a tomar mais risco. Mas não foi isso que aconteceu, segundo a Economática. A participação da bolsa brasileira no portfólio dos fundos de investimento caiu de 13,33%, em 2011, para 11,97%, em 2012. Ao mesmo tempo, subiu a participação em títulos públicos, de 56,96% para 59,48%.

A bolsa do México está em trajetória de alta desde 2009. Há períodos de queda, mas depois as altas são mais fortes. Nesse período, a valorização chega a 154%. Desde janeiro de 2011, a valorização passa de 40%.

Há, no momento, tendência de aumento do fluxo para ativos de risco. Isso é cíclico e sempre que acontece o Brasil se favorece. O estranho é que desta vez os investidores com maior apetite por risco não aportaram por aqui. O Brasil está, por enquanto, fora da rota.

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